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Treinamento muscular inspiratório: benefícios, técnicas e aplicações clínicas

O treinamento muscular inspiratório (TMI) é uma intervenção terapêutica focada no fortalecimento dos músculos envolvidos na ventilação, principalmente o diafragma e os músculos intercostais.

Este tipo de treinamento é particularmente relevante para pacientes com doenças crônicas, como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e Insuficiência Cardíaca (IC), mas também tem sido aplicado em populações saudáveis, incluindo atletas, para melhorar a resistência ventilatória e a performance física.

O TMI envolve o uso de dispositivos que impõem uma resistência ao fluxo de ar durante a inspiração, exigindo maior esforço muscular. Estudos demonstram que o TMI pode aumentar a força muscular inspiratória, melhorar a capacidade funcional, aumentar a tolerância ao esforço e reduzir a sensação de dispneia, principalmente em pacientes com limitações funcionais, como na DPOC.

Além disso, há evidências de que a prática regular de TMI pode contribuir para a melhora da qualidade de vida desses pacientes, tornando-se uma ferramenta valiosa no manejo de doenças respiratórias.

Benefícios do treinamento muscular inspiratório e aplicações clínicas

O ciclo ventilatório provoca alterações no sistema cardiovascular, influenciando a pressão e o volume das câmaras cardíacas, tanto em situações de esforço físico quanto em repouso. A respiração também exerce um papel terapêutico, desde o simples ato de "respirar fundo" até práticas ancestrais de meditação e espiritualidade. Estudos recentes demonstram que programas estruturados de respiração profunda podem reduzir a ansiedade, ajudar no controle da dor e contribuir para a diminuição da pressão arterial.

Pacientes com doenças pulmonares e apneia do sono também podem se beneficiar do Treinamento Muscular Inspiratório (TMI). A frequência respiratória é um fator determinante na percepção de esforço. Há relatos de que atletas de elite, em momentos de competição, buscam controlar ou regular a respiração para maximizar o foco e promover o relaxamento durante os picos de esforço.

Em adultos de meia-idade e idosos com pressão arterial sistólica elevada (entre 50 e 79 anos), o Treinamento Muscular Inspiratório (TMI) de alta resistência (75% da pressão inspiratória máxima – PImax), realizado por seis semanas (30 respirações diárias, seis dias por semana), foi comparado ao treinamento simulado de baixa resistência (15% da PImax). O TMI de alta resistência demonstrou ser uma intervenção segura, bem tolerada e com excelente adesão. Houve uma redução significativa na pressão arterial sistólica (de 135±2 mmHg para 126±3 mmHg; p<0,01) e diastólica (de 79±2 mmHg para 77±2 mmHg; p=0,03), enquanto no grupo de treinamento simulado esses efeitos não foram observados. Além disso, a pressão arterial sistólica de 24 horas foi significativamente menor após o TMI de alta resistência em comparação ao grupo simulado (p=0,01), e a função vascular apresentou uma melhora de aproximadamente 45%, acompanhada por um aumento na biodisponibilidade de óxido nítrico.

Em pacientes com doença renal crônica em hemodiálise, uma meta-análise com 246 participantes demonstrou que o TMI aumentou a PImax em 22,53 cm H2O e a PEmax em 19,54 cm H2O. Houve também um aumento significativo na capacidade funcional, com a distância percorrida no teste de caminhada de 6 minutos aumentando em 77,63 metros.

Em pacientes com insuficiência cardíaca, o TMI isolado promoveu um aumento na PImax de 25,12 cm H2O, uma melhoria de 81,18 metros na distância do teste de caminhada de 6 minutos, um aumento no consumo máximo de oxigênio de 3,75 mL/kg/min após 12 semanas e melhorias na qualidade de vida. Para pacientes com fraqueza muscular inspiratória, cargas mais elevadas e tempos de intervenção prolongados resultaram em maiores aumentos na PImax. Quando o TMI foi combinado com outras intervenções, os ganhos na PImax foram ainda maiores.

Uma meta-análise recente (n = 642 pacientes) demonstrou que o TMI reduziu a dispneia em repouso, melhorou a qualidade de vida (avaliada pelo Questionário Respiratório de Saint George), aumentou a capacidade funcional no teste de caminhada de 6 minutos e a PImax. Além disso, nenhum evento adverso foi relatado durante as sessões de TMI.

Dispositivos e protocolos de treinamento muscular inspiratório

O TMI é uma intervenção que visa fortalecer os músculos envolvidos na inspiração, como o diafragma e os músculos intercostais. Esse treinamento é frequentemente utilizado em pacientes com doenças pulmonares crônicas, atletas e indivíduos que desejam melhorar a função respiratória. Os dispositivos mais comuns e oferecidos no mercado usados para o TMI, são os seguintes:

Threshold Inspiratory Muscle Trainer

Este dispositivo funciona criando uma resistência constante durante a inspiração e aumentando o esforço ventilatório no momento inspiratório. Ele é ajustável, permitindo aumentar a resistência à medida que o paciente progride com cargas que variam de 9 até 41 cmH2O.

PowerBreathe

Semelhante ao Threshold, o PowerBreathe também utiliza uma resistência ajustável, mas é projetado para ser portátil e fácil de usar em qualquer lugar. Ele é amplamente utilizado tanto em reabilitação quanto em treinamento esportivo. Sua carga pode variar (dependendo da versão) de 17 – 98 cmH2O até 23 – 186 cmH2O.

SpiroTiger

Este dispositivo permite treinar tanto a resistência quanto a força dos músculos respiratórios. Ele oferece um controle preciso sobre a resistência e o volume corrente, sendo muito utilizado em atletas.

Dispositivos de PEP (Positive Expiratory Pressure)

Embora sejam mais utilizados no treinamento da expiração, alguns modelos podem ser adaptados para TMI, ajudando a melhorar a força inspiratória ao criar resistência durante a inspiração.

Os protocolos de prescrição do TMI variam quanto a intensidade de treinamento com base no percentual da PImax, número de repetições ou tempo de execução por série, número de séries durante o dia, frequência semanal e também duração do protocolo de treinamento.

Todo o protocolo deve considerar o dispositivo utilizado, a disponibilidade para uso (clínica, hospital ou em domicílio), investimento para a aquisição e cultura do profissional/serviço.

Os protocolos indicam cargas que variam de 30% até 70/80% da PImax para treinamento, com incrementos graduais ao longo do processo de treinamento.

A sessão de TMI pode ser organizada com 3 – 5 séries de 10 – 15 repetições, considerando a tolerância, adaptação e técnica do paciente para a realização. Podem ser realizadas até duas sessões por dia. O período de treinamento pode variar de 4 até 12 semanas de duração.

Avaliação da força muscular inspiratória

O protocolo de avaliação da força muscular inspiratória geralmente envolve a medição da pressão inspiratória máxima (PImax), que é a pressão mais alta que um paciente pode gerar ao inspirar contra uma resistência.

Para a realização do procedimento, o paciente senta-se confortavelmente e realiza uma expiração completa até o volume residual. Após o volume residual, o paciente inspira maximamente contra a resistência, e a PImax é registrada. São feitas 3 a 5 medições para consistência, e o maior valor é utilizado. O maior valor obtido, desde que os valores estejam próximos (geralmente dentro de 10% de variação), é considerado.

StartFragmentA avaliação no protocolo de Treinamento Muscular Inspiratório (TMI) é realizada por meio de um dispositivo chamado manovacuômetro, que pode ser analógico, digital ou da linha K-Series IMT. Essa avaliação, juntamente com as reavaliações, é essencial para monitorar o progresso do paciente e ajustar a intensidade do treinamento de maneira segura e eficaz. Ela estabelece uma linha de base para a PImax e define as cargas iniciais de treinamento.

Além disso, permite o ajuste progressivo da carga e da resistência com base nos ganhos de força e capacidade, auxiliando na verificação da eficácia do tratamento e na identificação de possíveis modificações no protocolo. Assim, o TMI é personalizado e adaptado ao progresso individual do paciente, maximizando os resultados terapêuticos.