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Sequelas neurológicas crônicas pós AVE: atuação do fisioterapeuta

O acidente vascular cerebral (AVC) é a segunda maior causa de morte e incapacidades no mundo. O AVC é a doença neurológica mais prevalente que necessita de reabilitação. As consequências são vastas e variadas, afetando diversas áreas das estruturas e funções corporais. Também tem relação com os fatores ambientais que o paciente está inserido.

Após um AVC, os pacientes frequentemente experimentam déficits motores, sensoriais e cognitivos com significativo impacto nas atividades rotineiras e na qualidade de vida. Como o Brasil é um território heterogêneo quanto aos acessos a rede de saúde, o processo de reabilitação também enfrenta barreiras socioeconômicas com enormes impactos na vida do paciente.

O objetivo do processo de reabilitação é reduzir a incapacidade funcional e aumentar a autonomia dos indivíduos, uma vez que os pacientes acometidos podem apresentar uma série de sequelas como hemiplegia ou hemiparesia, distúrbios da fala e da linguagem, como a afasia, e comprometimento da função cognitiva, incluindo problemas de memória, atenção e raciocínio.

As sequelas do AVC também podem incluir alterações no controle dos esfíncteres, dificuldade na deglutição, dor crônica, alterações emocionais, como depressão e ansiedade, e distúrbios do sono.

A recuperação das sequelas do AVC pode ser um processo longo e desafiador, e a extensão e gravidade das sequelas variam de acordo com a localização e a extensão do dano cerebral.

Portanto, uma abordagem personalizada e centrada no paciente é essencial para otimizar os resultados funcionais e de bem-estar após um AVC, além de prevenir complicações como o risco de aspiração pulmonar, desnutrição, úlceras de pressão e trombose venosa profunda. 

Sequelas Neurológicas crônicas pós AVE

As sequelas neurológicas do AVC representam um desafio significativo para pacientes e profissionais de saúde, influenciando diretamente a qualidade de vida e a independência funcional dos indivíduos afetados. O AVC é uma das principais causas de incapacidade neurológica em todo o mundo, e suas sequelas podem variar amplamente de acordo com a extensão, localização e gravidade do evento cerebrovascular.

Na fase aguda, as sequelas neurológicas do AVC podem incluir déficits motores, sensoriais, de linguagem, cognitivos e emocionais. A
fraqueza muscular, a perda de sensibilidade, a afasia, a disartria, a disfagia, a apraxia e os distúrbios de atenção e memória
são algumas das manifestações comuns observadas logo após o evento.

Além disso, complicações como
edema cerebral, hemorragia secundária e disfunção autonômica
também podem contribuir para o quadro clínico agudo do AVC. No entanto, as sequelas do AVC não se limitam ao período agudo e muitos pacientes enfrentam desafios a longo prazo.

As consequências crônicas podem incluir
espasticidade muscular, contraturas, dor crônica, fadiga, depressão, ansiedade e distúrbios do sono
. Além disso, alguns pacientes podem desenvolver condições neurodegenerativas secundárias ao AVC, como demência vascular.

A reabilitação precoce e intensiva desempenha um papel crucial na minimização das sequelas neurológicas do AVC, promovendo a recuperação funcional e adaptativa do paciente.

Estratégias multidisciplinares, incluindo fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, neuropsicologia e apoio emocional, são fundamentais para otimizar os resultados a longo prazo e melhorar a qualidade de vida dos sobreviventes de AVC.

Avaliação do paciente
 

Recentemente, a
Brazilian Academy of
Neurology publicou um documento chamado Diretrizes de Prática da Academia Brasileira de Neurologia para reabilitação de acidente vascular cerebral (parte I). Nesse documento, a instituição procurou orientar os profissionais com as informações disponíveis na literatura para o acompanhamento dos pacientes com base nos conceitos de intervenção propostos na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde.

As estratégias de reabilitação incluídas na diretriz abrangem as diferentes fases do AVC:

  • hiperaguda (0-24 horas);
  • aguda (1-7 dias);
  • subaguda precoce (7 dias-3 meses);
  • subaguda tardia (3-6 meses);
  • e crônica (> 6 meses).

A avaliação do paciente pós-AVC é um processo complexo e multifacetado que visa determinar a natureza, extensão e gravidade do evento cerebrovascular, além de identificar fatores de risco, comorbidades e necessidades individuais do paciente. Essa avaliação é crucial para orientar o manejo clínico, prognóstico e planejamento do tratamento e reabilitação.

A avaliação inicial do paciente com AVC geralmente ocorre no pronto-socorro ou unidade de emergência, onde são realizadas avaliações clínicas e neurológicas rápidas para determinar a gravidade do déficit neurológico, a extensão da lesão cerebral e a presença de complicações agudas. Testes diagnósticos, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética de crânio, são essenciais para confirmar o diagnóstico de AVC, diferenciar entre AVC isquêmico e hemorrágico, e avaliar a extensão da lesão cerebral.

Além da avaliação inicial, a avaliação do paciente com AVC também inclui uma avaliação abrangente dos fatores de risco vascular, histórico médico, exame físico completo, avaliação neuropsicológica e avaliação funcional. Testes laboratoriais, incluindo hemograma completo, perfil lipídico, glicemia, eletrólitos e hemograma, são frequentemente realizados para avaliar os fatores de risco e direcionar o manejo terapêutico.

A avaliação do paciente com AVC não se limita ao período agudo; é um processo contínuo que acompanha a evolução do paciente ao longo do tempo. Avaliações regulares são essenciais para monitorar a recuperação neurológica, identificar complicações tardias, ajustar a terapia medicamentosa e implementar estratégias de reabilitação multidisciplinar.

Para pacientes crônicos, recomenda-se a avaliação e o manejo de contraturas e do condicionamento físico, pois eles costumam passar quase 80% do dia em comportamento sedentário. É importante também avaliar a dor central (neuropática) e o ombro doloroso no manejo a médio e longo prazo desses pacientes.

A avaliação de possíveis lesões na pele e de fatores de risco para o desenvolvimento de úlceras de pressão faz parte das orientações das diretrizes. A avaliação do estado de humor, definido pela presença de humor deprimido ou pela diminuição acentuada no interesse ou prazer em decorrência do evento cerebrovascular, também é importante.

Aproximadamente 30% dos pacientes nos primeiros cinco anos após o derrame tem o risco de desenvolver essas alterações de humor, sendo proporcional à gravidade do evento.

Também são avaliados o risco de trombose venosa profunda e distúrbios do sono. O manejo desses fatores contribui para a prevenção secundária de AVC uma vez que há um aumento de até 40% de chance de novo evento em 10 anos sem o tratamento adequado.  

Intervenção fisioterapêutica

O processo terapêutico do paciente com AVC e as consequência do evento deve envolver uma equipe multidisciplinar de reabilitação composta por diversos profissionais com experiência em reabilitação de AVC: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais.

Além da equipe, a comunicação entre os diferentes profissionais e familiares/cuidadores é fundamental para o acompanhamento do paciente com a correta documentação das funções e responsabilidade de cada um.

A intensidade da reabilitação começa desde as primeiras intervenções após o evento, com o paciente ainda na unidade hospitalar. A reabilitação deverá ser de acordo com a as necessidades do paciente e cobrir uma variedade de terapias multidisciplinares, incluindo fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia.

O treinamento de força muscular será necessário para pacientes com fraqueza muscular após o evento cerebrovascular. Isso pode incluir um protocolo progressivo de força por meio do aumento de repetições de atividades com o próprio peso corporal (por exemplo, repetições de sentar-se e levantar), faixas elásticas, halteres ou com equipamentos.

A aptidão cardiorrespiratória deve ser otimizada para aumentar a autonomia do paciente e reduzir a chance de um novo evento. O uso de talas de punho e mão deve ser cuidadosamente avaliado pela equipe profissional para pacientes com muita fraqueza muscular ou alto tônus, visando manter a amplitude articular e a organização dos tecidos moles. Essas intervenções têm como objetivo aumentar a amplitude passiva de movimento, facilitar a função (por exemplo, a preensão), auxiliar no cuidado ou higiene e aumentar o conforto. O manejo adequado reduz a chance de lesões na pele.

O uso da estimulação elétrica para o membro superior afetado pode ser parte de um programa abrangente de reabilitação. Esta técnica visa otimizar o recrutamento de unidades motoras em pacientes que apresentam evidências de contração muscular, mas não conseguem mover o braço contra resistência. A estimulação elétrica pode ajudar a manter a amplitude de movimento e melhorar a capacidade de preensão e liberação.

Outra técnica que pode contribuir para a recuperação da função é a terapia de movimento induzido por restrição, indicada para pacientes com extensão do punho e dos dedos preservada. Esta terapia envolve a realização de tarefas repetitivas, como alcançar, agarrar, apontar, mover e manipular objetos com os membros superiores. Para pacientes com fraqueza nos membros inferiores, as tarefas podem incluir se sentar e levantar, caminhar e usar escadas.

Além disso, a terapia espelho pode ser incluída no processo de reabilitação. Esta técnica se baseia no feedback visual para otimizar a plasticidade neuronal na área motora primária e reorganizar as sinapses corticais.

O treinamento de circuitos ou atividades em grupo pode ajudar os pacientes a recuperar a capacidade de andar, seja com ou sem assistência, estimulando a tolerância ao esforço. É recomendado considerar o treinamento em esteira, com ou sem suporte de peso corporal, como uma opção para pessoas que sofreram AVC e são capazes de andar com ou sem ajuda.

Além da terapia de caminhada individual, é essencial incluir aconselhamento sobre o risco de quedas e considerar fatores ambientais e adaptações domiciliares. Isso ajuda a garantir um ambiente seguro para o paciente durante a reabilitação.

Outro dispositivo útil no processo de reabilitação pós-AVC são as órteses tornozelo-pé. Estes dispositivos oferecem suporte ou corrigem a função dos membros durante a fase de balanço após o AVC ou no controle da fase de apoio durante a caminhada. O fisioterapeuta pode orientar o paciente, familiares e cuidadores no processo de adaptação, uso e avaliação do conforto das órteses.

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