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Úlcera Terminal de Kennedy: o que é, características e intervenções de enfermagem

Durante a terminalidade de vida, os órgãos e sistemas, incluindo a pele, podem apresentar disfunção progressiva e falência. As principais alterações fisiológicas envolvidas são a diminuição da perfusão, hipóxia tecidual localizada e hipotensão arterial.

A combinação destes fatores, associada à condição clínica geral do paciente, predispõem a ocorrência de lesões de pele. Estas alterações podem afetar a pele e os tecidos moles, manifestando-se como mudanças observáveis (objetivas) na cor da pele, turgor ou integridade, ou como sintomas subjetivos, como dor localizada.

Na fase final da vida, qualquer órgão pode ser comprometido e começar a falhar, sendo assim, se pode observar que a pele, sendo nosso maior órgão, precisa também de atenção especial. Quando um órgão é comprometido, pode-se resultar em lesão. Assim, nesta fase da vida, a pele também pode sofrer falência, gerando agravos para o paciente.

Nesta perspectiva, a falência de pele (skin failure) é definida como a ocorrência de uma lesão de pele inevitável resultante de hipoperfusão causada por disfunção múltipla orgânica grave, comumente observada em pacientes críticos ou em terminalidade de vida. Ao contrário de uma lesão por pressão clássica, uma lesão inevitável pode ocorrer a despeito da implementação de todas as medidas preventivas adequadas, que inclui avaliação da condição clínica do indivíduo e dos fatores de risco, bem como um plano de cuidados individualizado claramente definido, implementado, monitorado, avaliado e revisado conforme apropriado.

Uma Úlcera Terminal de Kennedy é diferente de uma lesão por pressão porque é atribuível à hipoperfusão (isquemia local) da pele e não à pressão. Neste artigo, falaremos mais sobre esse tipo de lesão e exploraremos as intervenções de enfermagem nesses casos.

O que é Úlcera Terminal de Kennedy (UTK)

A Úlcera Terminal de Kennedy (UTK) foi definida pela primeira vez em 1983 por Karen Kennedy-Evans, uma enfermeira dedicada que pioneiramente estabeleceu uma das primeiras equipes especializadas em cuidados dermatológicos em uma instituição de cuidados de longa duração. Ao observar as lesões frequentes surgindo em indivíduos em estágios avançados da vida, Kennedy-Evans identificou e documentou a condição.

Úlceras Terminais de Kennedy são inevitáveis, portanto, o manejo adequado, incluindo a educação do paciente, colabora para que o processo de finitude não tenha impacto negativo em sua qualidade de vida.

Características da Úlcera Terminal de Kennedy

A UTK tem como características principais ser uma
lesão tecidual de início súbito e rápida progressão
, observada em pacientes que se encontram em processo ativo de morte. A aparência inicial é semelhante a uma abrasão, escoriação ou região escurecida; as bordas apresentam-se irregulares, em forma de pêra, borboleta ou ferradura de coloração azul, vermelho, roxo, amarelo ou preto, ocorrendo predominantemente na região sacral com expansão unilateral ou bilateral nas nádegas. Pode também envolver outras regiões como em calcâneos, cotovelos e panturrilhas.

As lesões são inevitáveis, a despeito da manutenção de cuidados de qualidade. Apesar de serem classificadas como uma lesão por pressão, o processo evolutivo de profundidade, extensão e gravidade ocorre em um curto intervalo de tempo. Sua ocorrência pode ser considerada um preditor de mortalidade e uma evidencia clínica da progressão da terminalidade. A gestão clínica da lesão não objetiva a cicatrização, mas sim, o controle da dor e odor, bem como a prevenção do surgimento de novas lesões ou o agravamento das feridas instaladas.

A Úlcera Terminal de Kennedy é um componente do fenômeno de modificações na pele que ocorrem no final da vida, frequentemente referido como "skin failure" (falência da pele). Esse fenômeno se manifesta quando o organismo prioriza a perfusão dos órgãos vitais, resultando em alterações na pele que levam à hipóxia local e ao surgimento de mudanças cutâneas conhecidas como SCALE (Skin Changes at the Life’s End). Essas alterações na pele, causadas pela diminuição da perfusão sanguínea, podem resultar em rupturas cutâneas.

A redução da perfusão sanguínea torna insuficiente a oxigenação da pele, o que compromete a viabilidade tissular. Como efeito, ocorre a isquemia e, por fim, insuficiência cutânea e falência da pele. Além da hipoperfusão e, consequente isquemia tecidual, há outros fatores de risco associados ao surgimento da UTK, tais como: anemia, desnutrição, hipoalbuminemia, insuficiência respiratória, hipóxia, doença renal, diabetes mellitus, medicamentos vasopressores, além de falência de múltiplos órgãos.

Cuidados de enfermagem

Existe uma relação intima entre o surgimento das lesões e um prognóstico de morte. Em alguns casos a perspectiva de sobrevida pode ser de horas ou semanas após o aparecimento da lesão. Nesse contexto, os planos de cuidados serão orientados aos cuidados paliativos, com uma assistência de enfermagem personalizada, contemplando o estágio da doença e as principais necessidades do indivíduo. As metas de cuidados concentram-se na qualidade de vida restante, buscando oferecer cuidados otimizados, racionais e éticos

A UTK é considerada como um subgrupo de lesão por pressão. No entanto, a principal diferença clínica é a deterioração da pele com progressão rápida. No decorrer de um dia ou menos, a ferida pode evoluir de uma lesão superficial para estágios III ou IV.

Os cuidados com a pele e feridas em fim de vida são diferentes de outros cuidados com a pele e feridas porque
não se concentram mais na cicatrização da condição da pele ou da ferida, mas sim em proporcionar conforto.

Estas intervenções são, na maioria das vezes, de
natureza paliativa e visam minimizar a dor e o sofrimento e evitar complicações adicionais
. Os cuidados com a pele devem equilibrar a promoção e a manutenção da integridade da pele, a prevenção e o manejo de feridas, ao mesmo tempo em que promovem a dignidade do paciente e a qualidade de vida.

Os protocolos de cuidado locais incluem:

  • manutenção da integridade da pele;
  • controle da dor;
  • prescrição de coberturas adequadas que contemplem a prevenção ou redução de infecção;
  • controle do exsudato;
  • controle de odores;
  • minimização ou eliminação de sangramento;
  • uso racional dos recursos terapêuticos que não visam a cicatrização da lesão.

Cabe salientar que quaisquer intervenções, tratamentos, terapias ou cuidados prestados pelos profissionais de saúde devem ser congruentes com os objetivos, preferências e prioridades do indivíduo que se aproxima do fim da vida. Os cuidados paliativos envolvem a melhoria da qualidade de vida do paciente, almejando um equilíbrio entre tratamento, conforto e manutenção da dignidade.

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