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Afinal, o que são os pensamentos automáticos?

Pensamentos são produtos cognitivos que são experimentados e manipulados por nós. São repletos de ideias, imagens e representações mentais que apresentam em seu conteúdo imaginação, lembranças, devaneios e soluções de problemas. É a partir dos pensamentos que temos contato com todo conteúdo abstrato que permeia a mente, além dos significados e interpretações que damos a esse conteúdo pautado por nossas experiências de vida e leitura que fazemos do ambiente ao longo da vida. 

Muitos dos pensamentos não são facilmente acessíveis e identificáveis, pois residem à margem da consciência. Na terapia cognitivo-comportamental (TCC), são conhecidos como pensamentos automáticos. Os pensamentos automáticos são aqueles carregados de informações, significados e interpretações dadas pelo indivíduo e que “passam pela cabeça” de maneira rápida, muitas vezes não identificados com clareza, mas que deixam rastros emocionais e comportamentais, criando muitas vezes padrões de funcionamento (Eysenk et al. 2007). 

Neste contexto, é crucial compreender que os pensamentos não são manifestações mentais passageiras. Eles representam elementos-chave na compreensão da mente humana e no funcionamento psicológico. Como mencionado anteriormente, os pensamentos automáticos desempenham um papel significativo nesse processo, influenciando nossas emoções e comportamentos de maneira muitas vezes sutil, mas impactante.

No próximo parágrafo, exploraremos as
distorções cognitivas
, que são padrões de pensamento enviesados e distorcidos que podem moldar nossa percepção da realidade de maneira distorcida. Vamos examinar de perto esses padrões de pensamento e sua influência em nossa saúde mental e bem-estar (Beck et al,. 1997).  

Conteúdo dos pensamentos automáticos e as distorções cognitivas 

O pensamento automático muitas das vezes passa despercebido, não é reconhecido o seu conteúdo, mas é repleto de carga emocional. Os conteúdos desses pensamentos estão relacionados as distorções cognitivas. Por exemplo, o paciente pode estar em uma sessão e identificar claramente que está ansioso, com medo ou envergonhado, mas não identificar qual ou quais pensamentos automáticos estão presente, até que o terapeuta os evoque. Para evocar são necessários conhecimentos de técnicas específicas. Quando os pensamentos são identificados, é possível verificar determinados padrões. Esses padrões são chamados de distorções cognitivas (Beck, 2022). 

As distorções cognitivas referem-se a padrões de pensamento enviesados e distorcidos que influenciam a maneira como interpretamos as situações e eventos em nossas vidas. As distorções cognitivas fornecem o contexto para o conteúdo dos pensamentos automáticos, moldando nossa percepção da realidade. Exemplos dessas distorções incluem "leitura da mente", em que presumimos erroneamente os pensamentos alheios, e "tudo ou nada", caracterizado por extremos e falta de nuances na avaliação de situações (Beck, 2022). 

Compreender esses padrões e vieses de pensamento em cada indivíduo é fundamental para identificar e abordar os pensamentos automáticos de forma eficaz. Ao reconhecer essas distorções cognitivas, podemos aprender a desafiá-las e substituí-las por pensamentos mais realistas e adaptativos. Na sequência, vamos explorar como auxiliar o paciente a identificar os pensamentos automáticos e suas distorções específicas, fornecendo estratégias práticas para lidar com eles e promover uma maior saúde mental e bem-estar emocional (Leahy, 2019). 

Como identificar a veracidade de pensamento automáticos? 

 A TCC oferece várias ferramentas para ajudar os pacientes a identificar e compreender seus pensamentos automáticos. Uma forma eficaz é utilizar técnicas de diferenciação entre eventos, pensamentos e sentimentos. Isso envolve ajudar o paciente a distinguir claramente entre o que está acontecendo externamente (eventos), seus pensamentos internos sobre esses eventos e as emoções associadas a esses pensamentos segundo a imagem (Leahy, 2019).  

Além disso, é importante verificar que os pensamentos podem se apresentar de diferentes formas, seja verbalmente ou por meio de imagens mentais. Pedir ao paciente para descrever o que está passando pela sua cabeça pode ser desafiador, especialmente se eles não estão acostumados a identificar seus próprios pensamentos. Nesses casos, solicitar que descrevam as imagens mentais que surgem quando pensam em uma situação específica pode ser útil. Isso ajuda a tornar o processo mais tangível e claro, permitindo que eles pratiquem a visualização e articulação de seus pensamentos de maneira mais acessível (Wright et al., 2008).  

Ao desenvolver habilidades de identificação de pensamentos automáticos, os pacientes podem se tornar mais conscientes dos padrões de pensamento que influenciam suas emoções e comportamentos. Isso cria uma base sólida para o trabalho terapêutico subsequente, onde podem desafiar e substituir pensamentos disfuncionais por alternativas mais realistas e adaptativas (Beck, 2022). 

A seguir, exploraremos estratégias adicionais para identificar e manejar os pensamentos automáticos, buscando auxiliar o terapeuta na sua prática. 

Estratégias para detectar pensamentos automáticos em pacientes 
 

A TCC oferece um diversas técnicas que auxiliam o terapeuta na busca de identificar os pensamentos automáticos do paciente. A seguir serão citadas algumas.  

  1. Observação de Reações Emocionais:
    um dos primeiros passos para identificar pensamentos automáticos é observar as reações emocionais do paciente, ou seja, observar se eles demonstram uma mudança repentina de humor ou expressam emoções intensas, este pode ser um indicador de que um pensamento automático está influenciando essas emoções. 
  2. Diário de Pensamentos:
    peça aos pacientes para anotar pensamentos que surgem em situações específicas. Por exemplo, "Estou ansioso antes de uma apresentação", o que leva a pensamentos automáticos como "Eu vou falhar", "Todos vão rir de mim", etc. Sugira que o paciente tenha onde anotar seus pensamentos ou situações para que junto ao terapeuta identifique os padrões. 
  3. Registro de Situações e Respostas:
    instrua os pacientes a registrar situações problemáticas e as emoções associadas, bem como as respostas comportamentais. Isso ajuda a identificar padrões de pensamento que estão ligados a essas emoções e comportamentos. 
  4. Questionamento Socrático
    :
    Faça perguntas abertas que levem os pacientes a explorar a lógica e a evidência por trás de seus pensamentos automáticos. Perguntas como "Qual é a evidência para esse pensamento?", "Existe uma explicação alternativa?", ou "Qual seria a pior coisa que poderia acontecer?" podem auxiliar nesse momento. 
  5. Identificação de distorções cognitivas:
    Faça a psicoeducação do que são as distorções cognitivas e de exemplos. O paciente pode pensar que algo é totalmente bom ou totalmente ruim, sem considerar opções intermediárias. Por exemplo, "Se eu falhar neste teste, sou um completo fracasso” (pensamento do tudo ou nada), outra situação o paciente imagina cenários catastróficos ou resultados extremamente negativos. Por exemplo, "Se eu falhar nessa prova, minha carreira estará arruinada, e eu nunca vou me recuperar." (Catastrofização). 
  6. Atribuição de Rótulos aos Pensamentos:
    incentive os pacientes a rotular seus pensamentos automáticos. Isso ajuda a criar consciência de padrões repetitivos, como "Novamente aquele meu pensamento de catastrofização de novo", ou "Este é um pensamento de desqualificação do positivo". 

Considerações finais 

Como terapeuta cognitivo-comportamental, identificar pensamentos automáticos e desafiar distorções cognitivas é uma habilidade fundamental para promover saúde mental e bem-estar emocional. Ao aprender a reconhecer padrões de pensamento disfuncionais em seus pacientes e a trabalhar com eles para substituir esses padrões por pensamentos mais realistas e adaptativos, você ajuda a cultivar uma mente mais equilibrada e resiliente. 

Lembre-se, o processo de identificar e desafiar distorções cognitivas pode ser demorado e exige prática, tanto para você quanto para seus pacientes. 

Portanto, incentive-os a serem pacientes consigo mesmos durante esse processo. Se você perceber que está enfrentando desafios, não hesite em buscar supervisão de profissionais qualificados. Com persistência e compromisso, você pode ajudar seus pacientes a lidar mais eficazmente com pensamentos automáticos e a cultivar uma perspectiva mais positiva e realista sobre a vida. 

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Autoras
 

  • Rose Guedes 

Psicóloga e Mestra em Psicologia Clínica pelo Programa de Psicologia Clínica (PSC) USP SP (2021). Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental. Formação em Terapia dos Esquemas pelo LaPICC (USP). Terapeuta Certificada pela Federação Brasileira de Terapias Cognitivas FBTC. É Sócia e Responsável Técnica pelo Instituto Flow Ir (Psicologia e Desenvolvimento de Pessoas em Guarulhos/SP). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Clinica, Psicologia Cognitiva, Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e Terapias Contextuais. Pesquisadora colaboradora do Grupo de supervisão/orientação e estudos do PSC USP SP.  

  • Beatriz de Oliveira Meneguelo Lobo 

Psicóloga e Mestra em Psicologia (área de concentração Cognição Humana) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutoranda em Psicologia em Saúde e Desenvolvimento pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), com bolsa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais e com Formação em Terapia do Esquema. Professora em cursos de Pós-Graduação em Terapia Cognitivo-Comportamental, Terapia Cognitivo-Comportamental na Infância e Adolescência e Terapia do Esquema. Supervisora Clínica. Pesquisadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental - LaPICC-USP da Universidade de São Paulo (USP).

SOBRE A EDITORA-CHEFE

Carmem Beatriz Neufeld: 
Psicóloga. Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental – LaPICC-USP. Professora Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP. Presidente da Associação Latino-Americana de Psicoterapias Cognitivas - ALAPCO (2019-2022). Presidente da Associação de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências - AESBE (2020-2023).