Fotobiomodulação: bases científicas, mecanismos e aplicações na reabilitação fisioterapêutica
A fotobiomodulação (FBM), também conhecida como terapia com luz de baixo nível, ou do inglês
low light laser therapy
(LLLT), é uma técnica terapêutica que utiliza luz vermelha e infravermelha para promover efeitos biológicos específicos sem causar aquecimento ou danos aos tecidos.
A luz emitida é absorvida por fotoreceptores celulares, especialmente a citocromo c oxidase na mitocôndria, o que melhora a produção de ATP (adenosina trifosfato), estimula a sinalização celular e reduz o estresse oxidativo. Esses processos ajudam a acelerar a cicatrização de feridas, reduzir inflamações e melhorar a função muscular e articular, sendo relevante em diversos contextos da reabilitação física, como o alívio da dor e a recuperação pós-cirúrgica.
A utilização de luz para fins terapêuticos remonta à antiguidade, mas o conceito moderno de FBM começou a ser explorado nas décadas de 1960 e 1970, com experimentos que demonstraram efeitos benéficos da luz de baixo nível na regeneração tecidual e proliferação celular. Nos anos seguintes, dispositivos de laser e LEDs (
light emitting diode
) foram aperfeiçoados, expandindo o uso da FBM para áreas como a dermatologia e a reabilitação esportiva.
A técnica tem evoluído para se tornar uma abordagem não invasiva e de baixo custo, com poucos efeitos colaterais, sendo amplamente aplicada em fisioterapia para tratar dores crônicas, lesões esportivas e condições inflamatórias. A literatura atual reforça a importância da padronização dos parâmetros de tratamento, como a frequência e a dose da luz, para otimizar os resultados clínicos e ampliar o uso seguro da técnica em diversas condições de saúde.
Bases científicas
A interação entre a luz e o tecido vivo é baseada em processos físicos como absorção, dispersão e transmissão da radiação. A absorção depende das características ópticas dos tecidos, como o conteúdo de água, colágeno e melanina.
Esses processos são essenciais para terapias fotodinâmicas, laser e fotobiomodulação, influenciando diretamente a profundidade de penetração e o efeito terapêutico. O comprimento de onda é um fator crucial na determinação da profundidade de penetração da luz nos tecidos.
Comprimentos menores, como a luz ultravioleta, são eficazes para tratamentos superficiais, enquanto comprimentos maiores, na faixa do infravermelho, penetram mais profundamente. No entanto, comprimentos muito longos podem gerar aquecimento excessivo e danos ao tecido. A intensidade da luz também afeta os resultados clínicos. Intensidades mais altas podem ser usadas para gerar efeitos terapêuticos específicos, como na fotocoagulação, enquanto intensidades controladas, como na fotobiomodulação, são usadas para promover processos celulares regenerativos sem danos.
Esses fatores, quando combinados corretamente, garantem eficácia clínica e segurança em tratamentos que utilizam a interação luz-tecido.
Mecanismos de ação
A fotobiomodulação (FBM) é uma técnica terapêutica que utiliza luz em comprimentos de onda específicos, como o vermelho e o infravermelho, para estimular respostas biológicas nas células, promovendo uma série de benefícios fisiológicos. Essa intervenção modula processos celulares como a produção de ATP nas mitocôndrias, ativando a enzima citocromo c oxidase e outros mecanismos intracelulares.
No contexto do processo inflamatório, a FBM exerce efeitos anti-inflamatórios ao reduzir a liberação de citocinas pró-inflamatórias e diminuir o estresse oxidativo. Isso contribui para a atenuação da dor e a interrupção da progressão de inflamações crônicas. Além disso, o aumento da produção de ATP favorece a regeneração tecidual, estimulando a proliferação celular e melhorando o metabolismo local, fatores essenciais para a recuperação de lesões e cicatrização.
A resposta à FBM pode variar dependendo do tecido tratado. Tecidos superficiais, como a pele e mucosas, respondem bem a comprimentos de onda mais curtos (600-700 nm), enquanto tecidos mais profundos, como músculos e articulações, requerem luz infravermelha (780-950 nm) para melhor penetração.
Estudos em diversas condições clínicas demonstraram que a técnica é eficaz tanto na analgesia quanto na recuperação funcional em tecidos lesionados, sendo particularmente útil em condições como artrite e dor crônica. Duas revisões recentes detalham a eficácia e os mecanismos dessa técnica: uma publicada em 2023 sobre a aplicação da FBM na inflamação e alívio da dor, e outra que aborda seus efeitos no tratamento da artrite, destacando as propriedades anti-inflamatórias e regenerativas envolvidas nos processos celulares.
Em pacientes com fibromialgia, 4 semanas de PBM de corpo inteiro resultou em redução significativa da dor e melhorou a qualidade de vida além de melhora na cinesiofobia e a autoeficácia em curto e longo prazo, enquanto a catastrofização da dor mostrou melhora no acompanhamento de 6 meses. Já em pacientes com depressão, a FBM tem apresentado resultados positivos nos sintomas, entretanto, o número de estudos ainda é pequeno e mais estudos são necessários para estender os resultados.
Aplicações clínicas na fisioterapia
A PBM é amplamente utilizada na reabilitação para tratar dores musculoesqueléticas, promover a cicatrização de feridas e facilitar a regeneração nervosa. Essa técnica utiliza luz na faixa do vermelho e infravermelho, com efeitos biológicos não térmicos que estimulam a atividade celular e reduzem a inflamação, sendo uma abordagem não invasiva e segura.
- Dores musculoesqueléticas: a PBM é eficaz no alívio de dores associadas a condições como osteoartrite e lesões musculares, ajudando na recuperação funcional ao reduzir inflamações e melhorar a circulação local.
- Cicatrização de feridas:o tratamento com PBM acelera o processo de cicatrização por aumentar a proliferação celular, a síntese de colágeno e a vascularização, sendo indicada para feridas crônicas, úlceras e queimaduras.
- Regeneração nervosa:estudos mostram que a PBM pode melhorar a regeneração de nervos periféricos ao promover o crescimento de fibras nervosas e reduzir o tempo de recuperação em lesões neurológicas.
Os protocolos de PBM são definidos com base em fatores como comprimento de onda, densidade de potência, tempo de exposição e área de aplicação. A luz vermelha (620–700 nm) e infravermelha próxima (700–1440 nm) são as mais utilizadas, com cada faixa apresentando efeitos específicos sobre os tecidos.
Ajustes no número de sessões e na dose aplicada são necessários para diferentes condições clínicas, otimizando os resultados para cada paciente.
Apesar dos benefícios, a PBM possui algumas contraindicações. Deve ser evitada em áreas com suspeita de neoplasias ativas e em gestantes (sobre o abdômen). Além disso, cuidados são necessários para não aplicar luz diretamente sobre os olhos e em pessoas com fotossensibilidade. O uso correto dos parâmetros e uma avaliação individualizada minimizam os riscos.
Conclusão
A FBM tem ganhado destaque como uma abordagem não invasiva na reabilitação, utilizando luz vermelha e infravermelha para estimular processos celulares, promover reparo tecidual e reduzir inflamações. Diversos estudos indicam benefícios significativos em condições como alívio da dor, recuperação muscular e cicatrização de feridas.
Essa terapia age principalmente ao melhorar a função mitocondrial e aumentar a produção de ATP, facilitando a regeneração tecidual e a circulação sanguínea local. Embora a evidência científica aponte para a eficácia e segurança da FBM, ainda há necessidade de padronização dos protocolos para otimizar os resultados terapêuticos.
Assim, a aplicação da FBM na prática clínica oferece um potencial promissor para complementar o tratamento em diversas condições médicas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
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