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Modelo Denver de Intervenção Precoce para o Autismo: o que é e quais as evidências?

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do desenvolvimento neurológico caracterizado por dificuldades persistentes na comunicação e na interação social, além de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades.

Essas dificuldades e padrões de comportamento estão presentes desde o início da infância e tipicamente limitam ou prejudicam o funcionamento diário, justificando a classificação do TEA como um transtorno pelos manuais classificatórios.

O estágio em que o prejuízo funcional fica evidente varia conforme as características do indivíduo e seu ambiente, e a gravidade dos sintomas pode diferir significativamente, daí o uso do termo "espectro".

Na maioria dos casos, os sintomas do TEA podem ser consistentemente identificados entre 12 e 24 meses de idade. No entanto, o diagnóstico do TEA ocorre, em média, aos 4 ou 5 anos de idade, o que pode resultar na perda da mais importante janela de oportunidade para intervenções capazes de modificar o funcionamento cognitivo e adaptativo do indivíduo.

Por isso, a Associação Americana de Pediatria recomenda que todas as crianças sejam rastreadas para autismo aos 18 meses de idade. Em abril de 2019, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um manual científico para orientar os médicos brasileiros na realização adequada desse rastreio e diagnóstico.

Importância do diagnóstico e intervenção precoces

A realização do diagnóstico precoce gera a demanda por intervenções apropriadas para essas crianças. Embora o rastreamento populacional seja controverso, ele pode ser eficaz quando métodos de intervenção precoce estão disponíveis em determinados contextos clínicos.

Um dos modelos mais famosos de intervenção precoce para o TEA, analisado por meio de ensaios clínicos randomizados (ECR), é o
Modelo Denver de Intervenção Precoce (MDIP)
.

O que é o Modelo Denver de Intervenção Precoce para o Autismo?

O MDIP é uma intervenção intensiva baseada em brincadeiras e rotinas aplicadas em contextos naturais, como o quarto da criança. Reconhecido por agências de saúde dos EUA, Canadá e diversos outros países, o MDIP é considerado um tratamento de referência para problemas de comportamento em crianças autistas.

Desenvolvido com base na ciência do neurodesenvolvimento e em princípios da análise do comportamento, o MDIP é projetado para ser aplicado por um período de 2 anos por um familiar capacitado ou por um assistente terapêutico.

Evidências Científicas sobre o MDIP

Primeiro Estudo Clínico Randomizado (Dawson et al., 2010)

O primeiro ECR randomizou 48 crianças de 18 a 30 meses de idade com diagnóstico de TEA para o grupo de intervenção MDIP ou tratamento padrão oferecido na rede de saúde dos Estados Unidos (controle ativo). A intervenção resultou em melhoras significativas em QI, linguagem, comportamento adaptativo e diagnóstico de autismo.

  • Resultados
    : após dois anos, o grupo MDIP melhorou em média 17.6 pontos de QI comparado com 7 pontos no grupo controle. Embora o grupo MDIP ainda estivesse atrasado em comportamento adaptativo, foi capaz de manter um ritmo de mudança semelhante ao da amostra normativa, enquanto o grupo de intervenção padrão continuou a se distanciar em comportamento adaptativo. Além disso, crianças que receberam MDIP foram mais propensas a experimentar uma mudança no diagnóstico de autismo para transtorno desenvolvimental pervasivo, sem outras especificações, em comparação ao grupo controle. No entanto, não houve mudança nas pontuações de comportamentos repetitivos.

Segundo Estudo Clínico Randomizado (Rogers et al., 2019)

O segundo ECR, conduzido em três universidades, randomizou 118 crianças de 14 a 24 meses de idade com diagnóstico de TEA para MDIP ou intervenção padrão. Esse estudo replicou parcialmente os achados de linguagem do primeiro estudo, com uma vantagem significativa encontrada no grupo MDIP.

Uma medida interessante deste estudo foi a análise comparativa entre os desfechos e o tempo dispendido em horas de intervenção em cada grupo, indicando que os ganhos obtidos no grupo MDIP são derivados do modelo de tratamento, e não da quantidade de horas dispendidas em relação ao grupo controle.

  • Resultados
    : o segundo estudo confirmou a superioridade do MDIP na melhora da linguagem, mas não encontrou superioridade significativa para os demais sintomas principais em crianças autistas.

Conclusão

O Modelo Denver de Intervenção Precoce para o Autismo (MDIP) demonstra evidências significativas de melhora na linguagem e no comportamento adaptativo em crianças com TEA.

A possibilidade de aplicação do MDIP por familiares capacitados ou assistentes terapêuticos em ambientes naturais, como a própria casa ou creche, torna a intervenção mais acessível e prática. Estes estudos reforçam a importância da detecção e intervenção precoces em autismo, oferecendo um modelo de tratamento eficaz e possível de ser implementado.

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