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Mudanças climáticas: o que a Psicologia tem a contribuir?

De acordo com o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), muitos dos impactos do aquecimento global agora são simplesmente “irreversíveis”. Nos últimos anos, o aumento expressivo no número de desastres naturais, provocados pelas mudanças climáticas, vêm preocupando os especialistas na área. Ainda segundo o IPCC, apesar da situação alarmante, é possível diminuir os impactos das mudanças climáticas. Contudo, para isso, é necessário intensificar as ações coletivas e individuais em prol da conservação do meio ambiente (Shukla et al., 2019) 

Dentre as diversas áreas do conhecimento científico,
a Psicologia certamente integra a linha de frente para o combate das mudanças climáticas e impactos ambientais.
Nesse sentido, em 2008, a Associação Americana de Psicologia (APA, 2010) montou uma força tarefa para examinar o papel do conhecimento psicológico na compreensão e abordagem das mudanças climáticas globais, incluindo os esforços para a adaptação frente às mudanças climáticas.  

No cenário brasileiro, recentemente a Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP, 2021) esteve presente na conferência da
Global Psychology Alliance
(GPA), onde foram discutidos os progressos e as contribuições psicológicas para políticas e programas sobre a mudança climática. Tais movimentos evidenciam que pesquisadores, organizações científicas, psicólogos, professores e estudantes estão em atuação frente ao tema que, certamente, está longe de ser trivial. 

De acordo com o relatório da Associação Americana de Psicologia (APA, 2010), pode-se resumir o papel da Psicologia em três grandes áreas de atuação, a saber: 

  1. Os psicólogos podem fornecer uma base empírica e teórica para entender sobre o comportamento humano que contribui para as mudanças climáticas. Assim, é possível conhecer as forças individuais, interpessoais e sociais que motiva os indivíduos para agir (ou não agir), já que os problemas ambientais são causados pelo comportamento humano; 
  2. Juntamente com outras áreas do conhecimento, a Psicologia pode auxiliar a compreender como a interação entre o indivíduo e os fatores proximais (ex.: presença de outras pessoas, a estrutura de um bairro, etc.) e distais (ex.: fatores econômicos e culturais) afeta as mudanças climáticas; 
  3. Existem muitas consequências causadas pelas mudanças ambientais. Nesse sentido, os psicólogos podem auxiliar na compreensão e manejo dos impactos causados pelos desdobramentos de tais mudanças (presente e futuro), como os desastres naturais e o impacto da poluição no desempenho cognitivo (por exemplo, Zhang et al., 2018). 

Aqui, ilustramos brevemente as três áreas de atuação citadas pela APA com alguns dos dados da literatura científica na área.  

Sobre a primeira área, diversos pesquisadores e organizações científicas buscam comunicar à população geral sobre os acontecimentos das mudanças climáticas globais. Contudo, apesar do acesso à informação ser um mecanismo central para a mudança do presente cenário, ele por si só não é suficiente. Algumas barreiras psicológicas, como os vieses cognitivos, podem colaborar para que as pessoas não se preocupem com as mudanças climáticas e, consequentemente, não se engajem em comportamentos para detê-las (Milfont et al., 2014). 

 Como exemplo, para ilustrar o papel dos vieses no comportamento humano voltado para questões ambientais, Schultz e colaboradores (2014) realizaram um estudo em 26 países e observaram que a gravidade dos problemas ambientais tende a ser classificada como pior no nível mundial do que no nível nacional. Esse achado indica que as mudanças climáticas e outros problemas ambientais são vistas como um problema distante, que ocorre longe, no futuro e com outras pessoas, o que pode diminuir a motivação para a ação. 

A respeito da segunda área de atuação, Milfont e colaboradores (2014) observaram que, em uma amostra de indivíduos neozelandeses, aqueles indivíduos que moravam mais próximos à costa litoral tendiam a expressar maior crença na mudança climática e maior apoio à regulamentação governamental das emissões de carbono. Esse resultado está de acordo com outras pesquisas na área, que mostram que a localização geográfica é importante para compreender sobre as crenças e comportamentos dos indivíduos com relação às mudanças climáticas globais.  

Por fim, para a terceira área de atuação, a literatura em Psicologia vem discutindo sobre a ansiedade ecológica (do inglês “
eco-anxiety
”, definido como apreensão e estresse sobre ameaças antecipadas a ecossistemas salientes) e sobre o luto ecológico (refere-se ao luto em relação à perda ecológica). Apesar de não serem fenômenos psicológicos totalmente compreendidos, as pesquisas vêm evidenciando os efeitos desadaptativos dessas características, ao carregar sentimentos de incerteza, imprevisibilidade, incontrolabilidade e desesperança. (Cunsolo et al., 2020; Panu, 2020) 

4 dicas para os profissionais da saúde colaborarem para a diminuição dos impactos ambientais
 

Considerando a importância e necessidade de mudanças na relação entre o ser humano e o ambiente, listamos abaixo quatro dicas que os profissionais da saúde podem utilizar em sua prática clínica: 

1. Comece pelo seu ambiente de trabalho
 

Em nosso ambiente de trabalho, é possível adotar boas práticas para diminuir os impactos ambientais. Algumas dicas são: evite o desperdício e compras desnecessárias, descarte corretamente os materiais (como separando para a reciclagem cada tipo de lixo de acordo com o material), opte por objetos reciclados ou menos poluentes (como sacolas, canudos e copos biodegradáveis) e, se possível, busque trabalhar em locais mais frescos e com maior iluminação natural, evitando o uso constante de aparelhos como ventiladores, luminárias e ar condicionados. 

2. Informe sobre as boas práticas para a diminuição dos impactos ambientais
 

Certamente a informação é uma ferramenta poderosa para reduzir os diversos impactos ambientais. Por isso, recomendamos o incentivo pela busca por informações. Por exemplo, pode-se estimular a busca por conhecer marcas e produtos que poluem menos, as recomendações para reciclagem, como devem ser descartadas pilhas, baterias e eletrodomésticos, como evitar o desperdício de água em casa, dentre outros. Indicamos, ainda, os materiais produzidos pelo
WWF
. No site, estão disponibilizados documentos informativos para diferentes públicos (como crianças e adultos). 

3. Estimule hábitos saudáveis e sustentáveis
 

Durante a prática clínica, os profissionais da saúde podem recomendar uma série de estratégias interventivas que colaboram para o desenvolvimento de hábitos saudáveis e sustentáveis. Por exemplo, imaginemos que um paciente tenha como objetivo participar de algumas atividades realizadas em sua comunidade. Uma estratégia poderia ser o incentivo pela busca por grupos de pessoas que realizam atividades ao ar livre ou estão engajados em causas ambientais. Outra estratégia indicada pode ser a criação de hobbies que envolvem o uso de materiais reciclados para a confecção de utensílios e obras artísticas. 

 
4. Colabore com as pesquisas científicas
 

Os pesquisadores em Psicologia que atuam na área das mudanças climáticas e impactos ambientais comumente buscam compreender os fenômenos através de questionários e entrevistas realizados com uma determinada amostra da população. Quanto maior o número de participantes, maior tende a ser a robustez da pesquisa. Algumas dessas pesquisas são divulgadas amplamente nas redes sociais ou em outros canais de comunicação (TVs, e-mails, etc.). Você pode colaborar com as pesquisas científicas participando e/ou compartilhando-as com outras pessoas. Além disso, você pode acompanhar as instituições científicas (por exemplo, a Sociedade Brasileira de Psicologia) e auxiliar na divulgação dos trabalhos produzidos pelos pesquisadores.  

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Como citar este artigo: Rodrigues, W. S. & Neufeld, C. B. (2022, 09 mar.). Mudanças climáticas: o que a Psicologia tem a contribuir?. Blog do Secad. Link. 

SOBRE A EDITORA-CHEFE

Carmem Beatriz Neufeld:
 Psicóloga. Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental – LaPICC-USP. Professora Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP. Presidente da Associação Latino-Americana de Psicoterapias Cognitivas - ALAPCO (2019-2022). Presidente da Associação de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências - AESBE (2020-2023).