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Reabilitação vestibular: indicações e como fazer

A reabilitação vestibular (RV) é uma intervenção do profissional fisioterapeuta voltada para pacientes com distúrbios do equilíbrio, como vertigem, labirintite e outros problemas vestibulares.

Esses distúrbios podem causar sintomas debilitantes, como tonturas, náuseas e dificuldade para manter o equilíbrio, impactando significativamente a qualidade de vida e nas atividades laborais. Através de exercícios específicos, a reabilitação vestibular visa a adaptação, compensação e habituação do sistema vestibular, melhorando a estabilidade postural e reduzindo os sintomas.

Os benefícios incluem a redução da frequência e intensidade das tonturas, melhora na capacidade de realizar atividades diárias com segurança e aumento da confiança do paciente em sua mobilidade. Além disso, essa abordagem promove a neuroplasticidade, permitindo que o cérebro se adapte e crie novas conexões para compensar as disfunções vestibulares.

Assim, a reabilitação vestibular se destaca como uma ferramenta na recuperação funcional e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes acometidos.

Indicações para a reabilitação vestibular

Pacientes com disfunções vestibulares podem apresentar uma variedade de condições patológicas. As principais incluem:

  • Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB):
    causada por deslocamento de cristais de cálcio nos canais semicirculares do ouvido interno, levando a episódios breves de vertigem desencadeados por mudanças na posição da cabeça.
  • Doença de Ménière:
    caracterizada por episódios recorrentes de vertigem, perda auditiva flutuante, zumbido e sensação de plenitude no ouvido. Está associada ao excesso de líquido no ouvido interno.
  • Neurite Vestibular:
    inflamação idiopática do nervo vestibular, geralmente causada por uma infecção viral, resultando em vertigem intensa e prolongada, sem perda auditiva significativa.
  • Labirintite:
    inflamação do labirinto, a estrutura do ouvido interno responsável pelo equilíbrio, que pode causar vertigem, perda auditiva e zumbido, frequentemente associada a infecções virais ou bacterianas.
  • Enxaqueca Vestibular:
    forma de enxaqueca que inclui sintomas vestibulares, como vertigem e desequilíbrio, além de sintomas típicos de enxaqueca, como dor de cabeça e sensibilidade à luz e ao som.
  • Fístula Perilinfática:
    vazamento de fluido do ouvido interno para o ouvido médio, resultando em vertigem e desequilíbrio, frequentemente após um trauma ou mudanças súbitas de pressão.
  • Schwannoma Vestibular (Neuroma Acústico):
    tumor benigno no nervo vestibulococlear durante a quinta ou sexta década de vida, causando perda auditiva, vertigem, cefaleia, zumbido e dor facial.
  • Deficiência Multissensorial do Idoso:
    comumente observada em idosos, resulta da degeneração dos sistemas sensoriais, incluindo o vestibular, levando a dificuldades de equilíbrio e aumento do risco de quedas.

Essas condições podem ser debilitantes e impactar significativamente a vida diária dos pacientes, tornando essencial a avaliação e intervenção apropriadas para manejo e tratamento eficazes.

Como fazer a reabilitação vestibular

Os exercícios vestibulares, desenvolvidos por Cawthorne e Cooksey na década de 1940, incluem uma série de movimentos oculares, movimentos de cabeça, curvar-se, sentar-levantar, jogar bola e caminhar.

A reabilitação vestibular moderna é baseada em exercícios que combinam quatro componentes:

  • exercícios para estabilidade do olhar;
  • exercícios de habituação para reduzir sintomas, incluindo exercícios optocinéticos;
  • e exercícios para melhorar equilíbrio e marcha.

Esses componentes visam abordar as deficiências e limitações funcionais identificadas durante a avaliação, promovendo a estabilidade do olhar, a adaptação aos sintomas e a melhora na marcha e no equilíbrio do paciente.

Já os exercícios de Brandt-Daroff, são movimentos simples para tratar vertigem posicional. O paciente alterna entre deitar de lado e sentar, repetidamente. Isso ajuda a reposicionar partículas no ouvido interno, reduzindo a tontura. São fáceis de fazer em casa e geralmente recomendados por médicos para alívio dos sintomas de vertigem.

Pessoas com problemas vestibulares geralmente sentem tonturas e problemas de visão, equilíbrio ou mobilidade. Os distúrbios vestibulares chamados unilaterais e periféricos são aqueles que afetam um lado do sistema vestibular (unilateral) e apenas a parte do sistema que fica fora do cérebro (periférico - parte do ouvido interno).

Exemplos desses distúrbios incluem vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), neurite vestibular, labirintite, doença de Ménière unilateral ou problemas vestibulares após procedimentos cirúrgicos como labirintectomia ou remoção de um neuroma acústico. A reabilitação vestibular para esses distúrbios está se tornando cada vez mais usada e envolve vários regimes baseados em movimento.

Os componentes da reabilitação vestibular podem envolver aprender a trazer os sintomas para "dessensibilizar" o sistema vestibular, aprender a coordenar os movimentos dos olhos e da cabeça, melhorar o equilíbrio e as habilidades de caminhada e aprender sobre a condição e como lidar ou se tornar mais ativo.

Há evidências moderadas a fortes de que a reabilitação vestibular é um tratamento seguro e eficaz para disfunção vestibular periférica unilateral, com base em vários ensaios clínicos randomizados de alta qualidade. Há evidências moderadas de que a reabilitação vestibular resolve os sintomas e melhora o funcionamento em médio prazo.

No entanto, há evidências de que, para o grupo diagnóstico específico de VPPB, as manobras físicas (reposicionamento) são mais eficazes em curto prazo do que a reabilitação vestibular baseada em exercícios. Embora uma combinação das duas seja eficaz para recuperação funcional em longo prazo, não há evidências suficientes para discriminar entre diferentes formas de reabilitação vestibular.

Em crianças, a disfunção vestibular tem sido descrita como uma comorbidade em pessoas com perda auditiva neurossensorial, mas também pode ocorrer em pessoas com otite média crônica, concussão leve, citomegalovírus e prematuridade tardia. Pode ser decorrente de patologia ou lesão envolvendo estruturas vestibulares periféricas (bilaterais ou unilaterais) ou centrais.

Nestes casos, a RV tem como objetivo recuperar ou manter as funções consequentes à disfunção vestibular. A literatura já demonstra bons resultados de estudos controlados na melhora do equilíbrio, desenvolvimento motor e estabilidade do olhar em crianças com hipofunção vestibular bilateral ou arreflexia.

Crianças com perda auditiva neurossensorial e disfunção vestibular foram divididas em grupos que alternaram entre placebo e RV por 12 semanas. Os resultados mostraram que a RV melhorou significativamente o desenvolvimento motor e controle postural. As crianças ganharam em função motora e estabilidade, com uma redução significativa na perda de equilíbrio. A RV também melhorou a eficácia visual e somatossensorial, equiparando as crianças a pares com desenvolvimento típico.

A RV com realidade virtual mostrou-se eficaz em idosos com tontura, melhorando esse sintoma, equilíbrio, mobilidade, medo de cair, ansiedade e depressão. Em um estudo controlado com 32 participantes, os pacientes foram divididos entre um grupo com reabilitação vestibular convencional e outro com suporte de realidade virtual. Após 3 semanas de tratamento e avaliações no final e após 6 meses, o grupo com realidade virtual apresentou melhorias significativas nos sintomas de tontura, equilíbrio e saúde emocional em comparação ao grupo convencional. A realidade virtual proporcionou avanços adicionais na reabilitação vestibular desses pacientes.

Considerações e cuidados na reabilitação vestibular

A avaliação do paciente em reabilitação vestibular começa com uma anamnese detalhada, em que o profissional coleta informações sobre os sintomas de tontura, equilíbrio, e histórico clínico.

Testes específicos, como o Teste de Equilíbrio de Berg, Teste Timed Up & Go ou escalas que avaliem sintomas de vertigem, são usados para medir a estabilidade e a função vestibular. O paciente pode ser observado ao realizar movimentos oculares, de cabeça e de corpo para identificar deficiências.

Testes de marcha e equilíbrio dinâmico também são realizados. Com esses dados, o terapeuta personaliza o plano de tratamento para melhorar a função vestibular e a qualidade de vida do paciente.

Durante a sessão, exercícios personalizados são realizados, focando em movimentos da cabeça, olhos e corpo para estimular o sistema vestibular. O progresso é monitorado através da avaliação e das deficiências encontradas. As sessões normalmente duram cerca de 30 minutos e podem ser realizadas várias vezes por semana. A comunicação contínua entre o terapeuta e o paciente é essencial para ajustar os exercícios e garantir melhorias contínuas.

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