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Tratamento de feridas e curativos: técnicas e melhores práticas para a enfermagem

As feridas são lesões na pele que podem ser causadas por diversos fatores, dentre eles: traumas, problemas circulatórios, distúrbios metabólicos, processos inflamatórios, cirurgias, entre outros. Nas feridas, a epiderme possui a função de proteção contra microrganismos e a derme possui a função de reestruturar a pele através de seus fibroblastos.

Com exceção das feridas cirúrgicas no pós-operatório imediato, a avaliação da ferida e a prescrição do tipo de cobertura são responsabilidades do enfermeiro. Por isso, é fundamental que ele conheça as diferentes coberturas, saiba identificar o estágio do processo de cicatrização e domine as técnicas adequadas de curativo.

Tipos de feridas

As feridas podem ser classificadas de acordo com tempo de cicatrização, apresentação clínico cirúrgica, grau de contaminação, profundidade, etiologia, tempo e forma de cicatrização. As mais comuns no cotidiano da enfermagem são:

  1. Cirúrgicas:
    que podem ser abertas ou fechadas com sutura.
  2. Queimaduras:
    lesão provocada pelo contato direto com alguma fonte de calor ou frio, produtos químicos, corrente elétrica, radiação, ou mesmo alguns animais e plantas (como larvas, água-viva, urtiga), entre outros.
  3. Feridas traumáticas:
    quando existe uma interrupção acidental da continuidade do tecido da pele, associada a uma agressão externa - cortes/incisões, lesões perfurocortantes e abrasões.
  4. Ulcerativas:
    lesões escavadas, circunscritas, com profundidade variável, podendo atingir desde camadas superficiais da pele até músculos. As úlceras são classificadas conforme as camadas de tecido atingido:
  5. Estágio I:
    pele avermelhada, não rompida, mácula eritematosa bem delimitada, atingindo epiderme;
  6. Estágio II:
    pequenas erosões na epiderme ou ulcerações na derme. Apresenta-se normalmente com abrasão ou bolha;
  7. Estágio III:
    afeta derme e tecido subcutâneo;
  8. Estágio IV:
    perda total da pele atingindo músculos, tendões e exposição óssea.

Há também um outro tipo de lesão chamado de skin tears (quebras cutâneas), muito comum em idosos. Decorrente de traumas contra objetos ao redor, pode haver perda da espessura total ou parcial da pele. Estudos mostram que o retalho de pele quando viável é a melhor cobertura para esses tipos de lesão. Dentre os cuidados de enfermagem para prevenção, podemos citar: exame físico, rastreamento de fatores de risco, ações educativas com pacientes, seus cuidadores e familiares sobre os riscos presentes no ambiente, entre outros.

Dentre os fatores de risco para lesões em geral, há os extrínsecos que são cisalhamento, umidade e fricção, e os intrínsecos que são idade, peso, mobilidade comprometida, percepção sensorial prejudicada, dentre outros.

Além da origem da ferida, ela pode ser classificada pelo conteúdo bacteriano:

  • Limpa:
    lesão feita em condições assépticas e que está isenta de microrganismos;
  • Limpa contaminada:
    lesão com tempo inferior a 6 horas entre o trauma e atendimento, sem contaminação significativa;
  • Contaminada:
    lesão com tempo superior a 6 horas entre o trauma e atendimento, com presença de contaminantes, mas sem processo infeccioso local;
  • Infectada:
    presença de agente infeccioso local e lesão com evidência de intensa reação inflamatória e destruição de tecidos, podendo haver pus.

Tipos de cicatrização

  • 1ª intenção ou primária:
    a cicatrização primária envolve a reepitelização, na qual a camada externa da pele cresce fechada. As feridas que cicatrizam por primeira intenção geralmente são feridas superficiais, agudas, que não tem perda de tecido, resultados de queimaduras de primeiro grau e cirúrgicas em cicatriz mínima, por exemplo. Levam de 4 a 14 dias para fechar;
  • 2ª intenção ou secundária:
    é uma ferida que envolve algum grau de perda de tecido. Podem envolver o tecido subcutâneo, o músculo e, possivelmente, o osso. As bordas desta ferida não podem ser aproximadas. Geralmente são feridas crônicas, como úlceras. Existe um aumento do risco de infecção e demora à cicatrização, uma vez que ela ocorre de dentro para fora. Resultam em formação de cicatriz e têm maior índice de complicações do que as feridas que se cicatrizam por primeira intenção;
  • 3ª intenção ou terciária
    : ocorre quando a ferida é mantida aberta intencionalmente, para permitir a diminuição ou redução do edema ou infecção. Outra possibilidade é permitir a remoção do exsudato através da drenagem, como em feridas cirúrgicas, abertas e infectadas com drenos.

Tipos de curativo

  • Curativo simples:
    realizado por meio da oclusão com gaze estéril no local da lesão, mantendo-a seca e limpa.
  • Curativo oclusivo:
    realizado na lesão com sua total cobertura, evitando o contato com o meio externo.
  • Curativo úmido:
    usado para proteger drenos e irrigar a lesão com determinada solução tópica.
  • Curativo aberto:
    limpeza da lesão, mantendo-a exposta ao meio externo.
  • Curativo compressivo:
    promove a hemostasia local prevenindo a hemorragia.

Além dos tipos de curativos, há também a técnica que a ferida deve ser abordada:

  • Estéril:
    curativo realizado na unidade de saúde, com material estéril (pinças ou luvas), solução fisiológica 0,9% aquecida e cobertura estéril.
  • Limpa
    : curativo realizado no domicílio, pelo usuário e/ou familiar. Realizado com material limpo, água corrente ou soro fisiológico 0,9% e cobertura estéril.

Tipos de coberturas primárias

  • Papaína:
    possui ação bacteriostática e bactericida. Estimula a proliferação celular e realiza desbridamento químico. Na concentração de 2% pode ser usada em tecidos de granulação, em concentrações acima de 2% é utilizada como desbridante em tecidos necróticos.
  • AGE:
    ácidos graxos essenciais, promove angiogênese e quimiotaxia, mantém o meio úmido favorecendo a granulação, é usada em tecidos de granulação e em bordas.
  • Gaze não aderente:
    geralmente é impregnada com petrolato, mantém o meio úmido e acelera o processo de formação do tecido de granulação. Minimiza o trauma na retirada do curativo. Pode ser usada em tecidos de granulação, hipergranulação, bordas e periferia da lesão.
  • Alginato de cálcio:
    promove hemostasia e mantém o meio úmido, absorve exsudato, algumas apresentações são utilizadas para preencher cavidades.
  • Alginato com prata:
    possui ação bactericida, tem alta capacidade de absorção, promove hemostasia e mantém o meio úmido, facilitando o processo de cicatrização. Pode ser utilizado em feridas exsudativas, infectadas, queimaduras, etc.
  • Carvão ativado com prata:
    controla o odor da lesão, possui ação bactericida e absorve exsudato. Pode ser utilizado em feridas infectadas fétidas, tumorais, não deve ser utilizado em áreas de exposição óssea. O curativo não deve ser cortado.
  • Hidrocolóide
    : mantém o meio úmido, estimula a angiogênese e a autólise, atua como barreira térmica, microbiana e mecânica. Não pode ser utilizado como curativo secundário. Utilizado em feridas pouco exsudativas.
  • Hidrogel:
    promove desbridamento autolítico e mantém o meio úmido. Ideal para hidratação da ferida, tecidos desvitalizados, queimaduras de 1º e 2º grau. Não se deve utilizar nas bordas da lesão pois causa maceração.
  • Filme transparente:
    possui permeabilidade seletiva e pode ser usado como barreira, fixação de cateteres e em feridas secas. Útil para melhor visualização da área.
  • Sulfadiazina de prata 1%:
    possui ação bactericida e bacteriostática, muito utilizada em queimaduras e feridas infectadas.
  • Colagenase:
    realiza desbridamento enzimático e mantém o meio úmido. Geralmente utilizada em pacientes que possuem contraindicação a papaína, o grande contra dessa cobertura é que sua ação desbridante degrada também os tecidos viáveis com fatores de crescimento importantes no processo de cicatrização.
  • Espuma de poliuretano:
    alta capacidade de absorção de exsudatos, não é aderente, acelera o processo de cicatrização. Utilizada em feridas superficiais, lesões profundas com exsudato intenso ou moderado.

O enfermeiro é o profissional responsável para avaliar a lesão e decidir qual cobertura usar. Para isso, é importante reconhecer o tipo de ferida (se é exsudativa, se há tecido para desbridamento, se possui odor fétido, como ocorreu, como está sendo a cicatrização e etc) para então decidir como será tratada.

Ao reconhecer a ferida e as coberturas, ainda que em determinada unidade de saúde não se tenha todas as apresentadas, fica mais fácil decidir qual tratamento seguir em cada fase de cicatrização.