Precaução e isolamento: protocolos pela enfermagem

As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) são um grave problema de saúde pública em todo o mundo, pois são consideradas os eventos adversos mais frequentes associados ao cuidado, ocasionando alta morbimortalidade e repercutindo diretamente na segurança do paciente, além de apresentarem significativo impacto social e financeiro, interferindo na qualidade dos serviços de saúde.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que a maior prevalência de IRAS ocorre em unidades de terapia intensiva (UTIs), em enfermarias cirúrgicas e alas de ortopedia, sendo que as infecções de sítio cirúrgico, infecções do trato urinário e infecções do trato respiratório são as mais frequentes (BRASIL, 2017). Em países desenvolvidos, cerca de 7% dos pacientes já adquiriram pelo menos uma IRAS e, nos países em desenvolvimento, esse índice pode ser ainda maior, alcançando uma média de 10% (OMS, 2016).
Para que as IRAS ocorram, é necessária a existência de uma fonte de infecção, a transmissão do agente etiológico, a suscetibilidade do paciente à infecção e ao meio em que ele se encontra. Outro fator que pode resultar em complicações está relacionado à aquisição de IRAS por microrganismos multirresistentes, os quais podem ocasionar aumento no tempo de internação, aumento da mortalidade e dos gastos das instituições de saúde.
A resistência aos antimicrobianos é uma preocupação mundial e crescente, e a transmissão de microrganismos resistentes entre pacientes possivelmente ocorre via mãos dos profissionais de saúde, que podem se contaminar ao entrar em contato com o paciente e superfícies inanimadas do ambiente hospitalar, ocasionando uma contaminação cruzada.
Como Prevenir as IRAS?
Uma das práticas de prevenção das IRAS é a precaução de contato, que consiste em uma série de medidas adotadas para a prevenção da disseminação de patógenos no ambiente hospitalar, com o objetivo de proteger pacientes, profissionais da saúde e familiares diante de uma infecção por microrganismos.
Tipos de precauções
Precaução-padrão
O primeiro nível de precaução, denominado “padrão”, inclui as ações de higienização das mãos, o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) e a alocação em quarto privativo apenas nos casos em que o paciente não tem controle das eliminações de fezes e urina.
O segundo nível, denominado precaução específica, é baseado no “tipo de transmissão”, sendo indicado para o atendimento de pacientes diagnosticados ou suspeitos de estarem infectados com patógenos epidemiologicamente importantes, para os quais são necessárias precauções adicionais além das precauções padrão (BRASIL, 2021).
Com base no modo de transmissão dos microrganismos diagnosticados, as precauções específicas podem ser classificadas em:
1 -
Precaução de contato:
aplicável a pacientes reconhecidos ou suspeitos de abrigar microrganismos de importância epidemiológica, que possam ser transmitidos por contato direto (pessoa a pessoa) ou indireto (através de objetos intermediários). As medidas recomendadas incluem as precauções-padrão, além de algumas práticas específicas.
É enfatizado o uso de luvas ao entrar na unidade de internação desses pacientes, a troca de luvas durante o curso de um mesmo procedimento (caso haja contato com material infectado contendo alta concentração de microrganismos) e a lavagem das mãos com sabão antimicrobiano imediatamente após a remoção das luvas.
O avental deve ser colocado ao entrar na enfermaria (ou no leito, em caso de UTI) sempre que houver previsão de contato substancial com o paciente, superfícies ou materiais contaminados, ou quando o paciente apresentar diarreia, colostomia, ileostomia ou drenos. Ao remover o avental, deve-se garantir que as roupas não foram contaminadas, evitando a transferência de microrganismos a outros pacientes e ao ambiente.
Precauções adicionais devem ser adotadas para prevenir a disseminação de resistência microbiana à vancomicina. Esse tipo de precaução deve ser adotado, por exemplo, em pacientes com extensos abscessos, celulites e lesões por pressão; pacientes com incontinência fecal e urinária (portadores de
Shigella
,
Rotavírus
e hepatite A); pacientes com escabiose, pediculose, difteria cutânea, herpes simples e herpes-zóster; e pacientes colonizados ou infectados por bactérias multirresistentes (por exemplo,
Staphylococcus aureus
resistente à oxacilina).
2 -
Precaução por gotículas:
medidas destinadas a impedir a transmissão de agentes infecciosos que se disseminam por meio de gotículas ou partículas de pó contendo o microrganismo. Este pode ser transportado a grandes distâncias por correntes de ar e infectar pessoas suscetíveis próximas ao paciente.
Além das precauções-padrão, deve-se enfatizar a proteção respiratória: é recomendado o uso de máscara cirúrgica e óculos de proteção/escudo facial por todo profissional que estiver a menos de um metro do paciente, para proteção da mucosa dos olhos, nariz e boca. Também é indicado o uso de luvas ao entrar em contato com diferentes sítios corporais.
As precauções por gotículas são indicadas para pacientes acometidos por microrganismos transmissíveis por gotículas (partículas maiores que 5μ), que podem ser geradas por tosse, espirro e conversação, como no caso de parotidite, coqueluche, difteria, rubéola, meningite por meningococos e síndrome respiratória aguda grave (pneumonia asiática).
3 -
Precaução para aerossóis:
refere-se a partículas finíssimas sólidas ou líquidas, suspensas no ar. As precauções para aerossóis são indicadas para evitar a transmissão de partículas menores ou iguais a 5μ, que permanecem em suspensão no ar e podem ser transportadas por longas distâncias. Exemplos incluem tuberculose, varicela, sarampo e rubéola.
A internação deve ocorrer em quarto individual ou com outros pacientes com a mesma patologia, desde que não estejam infectados com outros patógenos. Para o cuidado do paciente, recomenda-se:
- Uso obrigatório de máscara com filtro especial, como a PFF2/N95;
- Uso de óculos de proteção;
- Uso de avental;
- Higienização das mãos antes e após o contato com o paciente;
- Descarte adequado de pérfuro-cortantes;
- Manutenção da porta do quarto fechada;
- Sistema de ventilação com pressão negativa e 6 a 12 trocas de ar por hora;
- Pacientes com suspeita de tuberculose resistente ao tratamento não devem dividir o quarto com outros pacientes com tuberculose;
- Desinfecção das superfícies próximas ao paciente (ex.: mesa de cabeceira, grade de cama, artigos médicos) uma vez por turno para reduzir a carga microbiana do ambiente.
Isolamento
O isolamento dos pacientes em quarto privado com fluxo de ar controlado por pressão negativa ou positiva é indicado para pacientes imunodeficientes e para aqueles suspeitos ou infectados por organismos patogênicos altamente transmissíveis por via aérea. Estudos demonstram que esses quartos reduzem infecções hospitalares em UTIs adultas, unidades de queimados e UTIs pediátricas.
Outros Cuidados Importantes
As precauções-padrão são medidas recomendadas pelo
Centers for Disease Control and Prevention
(CDC) e pelo Ministério da Saúde do Brasil e devem ser aplicadas a todos os pacientes hospitalizados, independentemente do estado de infecção, visando reduzir a exposição ocupacional a materiais de risco biológico e prevenir as IRAS.
A Norma Regulamentadora 32 recomenda que colchões, colchonetes e almofadas sejam revestidos por material lavável e impermeável, permitindo desinfecção e fácil higienização. Além disso, destaca-se que, para todos os tipos de isolamento, a higienização das mãos antes e após qualquer procedimento é fundamental para a prevenção de novos focos de infecção hospitalar (IH).