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Terapia de pressão negativa para tratamento de feridas: aplicação e monitoramento pela enfermagem

Uma ferida é definida por uma ruptura dos tecidos do corpo que pode ser produzida por: traumas, processos degenerativos, inflamatórios, circulatórios, por defeito de formação ou por distúrbios e transformações sofridas em um organismo. É resultado de um processo patológico que se inicia no interior ou exterior do órgão ou parte do corpo onde ocorre o dano na estrutura ou atividade anatômica normal, podendo ser em maior ou menor grau.

As feridas podem ser classificadas de acordo com sua etiologia em diferentes categorias:
traumáticas
, resultantes de acidentes envolvendo agentes cortantes, perfurantes, contundentes, atrito, inoculação de venenos, mordeduras ou queimaduras;
cirúrgicas
, caracterizadas como feridas agudas intencionais, geralmente realizadas em ambiente cirúrgico controlado;
patológicas
, como as úlceras venosas, arteriais, diabéticas, neuropáticas e isquêmicas; e
iatrogênicas
, decorrentes de reações adversas ao tratamento médico ou cirúrgico, ou seja, induzidas pela própria intervenção terapêutica.

As feridas consideradas de difícil manejo são chamadas de
feridas complexas
, cuja prevalência tem aumentado principalmente devido ao envelhecimento populacional e à maior incidência de traumas nas grandes cidades.

Para o tratamento dessas feridas, existe como opção a
terapia de pressão negativa (TPN)
, que oferece diversos benefícios como a diminuição das dimensões da ferida, a eliminação de bactérias e exsudatos e a redução da resposta inflamatória local. É um tipo de terapêutica que possibilita a
cicatrização em meio úmido, utilizando uma pressão subatmosférica, monitorada e localizada
. Vale destacar que existem vários modelos, marcas comerciais e dispositivos que fazem a sucção a vácuo para oferecer essa pressão negativa.

Como funciona a terapia por pressão negativa?

A terapia por pressão negativa (TPN) foi incorporada aos tratamentos de feridas a partir dos anos 90 por Argenta e Morykwas, cuja ideia principal era a aceleração da reparação tecidual. Inicialmente, o foco era simplesmente aplicar pressão negativa para promover a cicatrização, mas com a introdução da instilação, a técnica evoluiu significativamente. A TPN não só remove exsudatos e tecidos desvitalizados, como também mantém um ambiente úmido e limpo, essencial para a regeneração tecidual.

A finalidade é, a partir da aplicação de pressão negativa sob as margens da ferida, gerar tecido de granulação, fibroblastos e o surgimento de novas células, gerando uma aceleração no processo de cicatrização.

A pressão aplicada faz com que o exsudato seja sugado e absorvido por uma cobertura de espuma ou gaze que recobre todo o leito da lesão, incluindo cavidades, túneis e galerias. Em seguida, uma película fina e transparente é aplicada, selando completamente a ferida. Após isso, um ducto de sucção é fixado e conectado a um reservatório que coleta o material aspirado. Todo o processo é monitorado por um aparelho que permite a programação de parâmetros específicos e emite avisos sonoros em caso de vazamentos.

Vantagens e desvantagens

A vantagem da TPN está vinculada à uma regeneração mais rápida, à diminuição do tempo de hospitalização, à redução do risco de infecção e, consequentemente, o de morbimortalidade. Infelizmente, ainda é considerado um tratamento caro, deixando muitas vezes de ser utilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pelos planos de saúde, sendo dada preferência a curativos de custos mais baixos, porém com tempo maior de uso.

O tratamento de lesões agudas com esse sistema torna a troca de curativos menos frequente (em geral de 3 a 7 dias), levando ao tratamento completo da ferida, viabilizando os cuidados de enfermagem e reduzindo o risco de infecções.

No entanto, a aplicação da TPN pode causar efeitos adversos, como dor nas trocas de curativo, irritação e hemorragias, quando a técnica não é feita de forma correta. Tais efeitos podem ser evitados por meio da aplicação cuidadosa do curativo a vácuo.

Indicações e contraindicações

O uso de curativos a vácuo envolve uma série de considerações, incluindo sua composição, mecanismo de ação, indicações e contraindicações, forma de utilização, periodicidade das trocas, além de suas vantagens e desvantagens na prática clínica. No entanto, seu emprego deve sempre estar associado a uma avaliação criteriosa do leito da ferida e ao acompanhamento do processo cicatricial. Essa abordagem integrada garante que o tratamento seja adequado às necessidades da ferida e maximize as chances de uma cicatrização eficaz.

Geralmente, são indicadas para o tratamento de úlceras por pressão (UPP), feridas traumáticas, feridas diabéticas, úlceras venosas, enxertos de pele, abdome aberto, lesões supostamente irreversíveis e lesões com grande extensão e profundidade.

Fatores como a presença de necrose, de tecido com malignidade, de fístulas, exposição de vasos ou nervos, e casos de osteomielite sem tratamento são contraindicações para a TPN.

Cuidados de enfermagem

A equipe de enfermagem é responsável por conduzir o procedimento, buscando sempre a eficácia e a redução do tempo de tratamento, com uso de técnicas asséptica e prevenção de eventos adversos.

Como atores fundamentais no cuidado do paciente, os enfermeiros são capacitados para realizar curativos, prevenir infecções e lesões, acompanhar a evolução das feridas e indicar do melhor curativo, tornando-os aptos para a realização da TPN. A Resolução COFEN nº 0567 de 2018 regulamenta a atuação do enfermeiro na aplicação da pressão negativa no tratamento de feridas, exigindo capacitação específica.

Para instalação do curativo, deve-se antes fazer o desbridamento da ferida. Em seguida, coloca-se uma esponja (ou gaze, essa com menor eficácia) no leito da lesão, preservando a pele sã, e com um filme plástico adesivo será feita a vedação. A partir daí é conectado à máquina ou a um mecanismo de vácuo de parede hospitalar. A pressão habitualmente utilizada é - 125mmHg, no entanto pode variar entre - 50mmHg a - 150mmHg, sempre mantido sob controle.

Esses valores são divergentes entre autores, porém o que se sabe é que valores inferiores à - 50mmHg são insuficientes, não obtendo resultados satisfatórios, enquanto superiores a - 150mmHg podem ser danosos aos tecidos, gerando dor aos pacientes. Essa terapia pode ser administrada de maneira hospitalar ou em regime domiciliar, de maneira que a troca dos curativos seja feita de 48 a 72 horas, para garantir o pleno funcionamento da espuma ou gaze, e assegurar a eficácia do tratamento.

A aplicação de pressão negativa na lesão promove a drenagem do excesso de fluidos no leito da ferida e no espaço intersticial, aumentando o fluxo sanguíneo e linfático no local, que consequentemente promove a formação de tecido de granulação – estrutura repleta de nutrientes utilizados para a proliferação celular, pela deposição de tecido conjuntivo e matriz extracelular. A força da sucção também pode funcionar como estímulo mecânico para a proliferação celular por agir como substituto da perda de integridade estrutural basal e por provocar microdeformações no citoesqueleto celular, gerando estímulos para a proliferação e angiogênese.

Como o tratamento de feridas é uma responsabilidade do enfermeiro, este profissional deve estar capacitado para avaliá-las corretamente e recomendar a TPN quando disponível e indicada para o tipo específico de lesão. Essa intervenção contribui para uma cicatrização mais rápida, promovendo, assim, uma melhora significativa na qualidade de vida do paciente.

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