Teste de Respiração Espontânea (TRE): o que é, como e quando realizar
O teste de respiração espontânea (TRE) é um procedimento crucial no cuidado em saúde, especialmente nas unidades de terapia intensiva (UTI). O teste é fundamental para avaliar a capacidade de um paciente em ventilação mecânica (VM) respirar sem assistência.
Realizado geralmente em pacientes que estão sendo preparados para a extubação, o TRE ajuda a determinar se o paciente possui força e resistência muscular respiratória suficientes para manter a ventilação espontânea de forma segura e eficaz.
A importância do TRE reside em sua capacidade de reduzir complicações associadas à VM prolongada, como pneumonia associada à ventilação, lesões pulmonares induzidas por ventilador e
fraqueza muscular adquirida na UTI
.
Além disso, uma extubação bem-sucedida, baseada nos resultados do TRE, pode reduzir a permanência na UTI e, consequentemente, os custos hospitalares.
O TRE envolve a observação do esforço ventilatório e dos sinais vitais durante um período de ventilação mínima ou na ausência de suporte ventilatório. Um teste positivo indica que o paciente provavelmente conseguirá manter a respiração independente, enquanto um teste negativo sugere a necessidade de continuar com o suporte ventilatório.
Portanto, o TRE é uma ferramenta essencial para a tomada de decisões clínicas, melhorando a segurança e os resultados para os pacientes em VM e contribuindo para uma gestão mais eficiente dos recursos hospitalares.
O que é o teste de respiração espontânea (TRE)?
O TRE é um procedimento utilizado em UTIs para avaliar a capacidade do paciente de ventilar de forma independente, sem a assistência de VM. O teste é crucial na decisão de extubar pacientes, garantindo que estejam prontos para manter uma ventilação eficaz e segura por conta própria.
Durante o TRE, o equipamento de VM é ajustado para fornecer o mínimo de suporte possível, permitindo que o paciente respire espontaneamente. Isso pode envolver modos como pressão de suporte mínima ou CPAP (
Continuous Positive Airway Pressure
). Os parâmetros monitorados incluem a frequência respiratória, volume corrente, saturação de oxigênio e sinais de esforço/desconforto ou falência respiratória.
O objetivo principal do TRE é verificar se o paciente possui força muscular respiratória suficiente e capacidade neurológica e hemodinâmica adequadas para sustentar a respiração espontânea. Um sucesso no TRE indica que o paciente está pronto para ser desmamado do ventilador, reduzindo riscos de complicações associadas à ventilação prolongada.
Em recente metanálise, em que foram incluídos 67 estudos envolvendo mais de 67 mil participantes, de 49 variáveis analisadas, foram identificadas 26 variáveis significativamente associadas ao desfecho da extubação. As variáveis foram categorizadas em três domínios (comorbidades, gravidade da doença aguda e características no momento da extubação), envolvendo principalmente três funções (respiratória, circulatória e neurológica).
Por meio de uma análise multivariada, doze fatores foram significativamente associados à falha na extubação:
- idade;
- histórico de doença cardíaca;
- histórico de doença respiratória;
- pontuação SAPS (Simplified Acute Physiology Score) II;
- duração da ventilação mecânica;
- pneumonia;
- frequência cardíaca;
- índice de respiração superficial e rápida (IRRS);
- força inspiratória negativa;
- menor PaO2/FiO2;
- menor nível de hemoglobina antes da extubação;
- e menor pontuação na Escala de Coma de Glasgow antes da extubação.
Indicações
O TRE é um procedimento essencial na gestão de pacientes dependentes de VM, utilizado para avaliar a capacidade de respirar sem suporte ventilatório. As principais indicações para a realização do TRE incluem a presença de sinais de resolução da condição aguda que levou à VM e a estabilidade hemodinâmica do paciente.
Uma indicação crucial é a melhora ou estabilização da doença subjacente que causou a insuficiência respiratória, como pneumonia, sepse ou insuficiência cardíaca congestiva. Os pacientes devem ter níveis adequados de oxigenação, geralmente definidos como uma relação PaO2/FiO2 superior a 150-200, e uma fração inspirada de oxigênio (FiO2) de 40-50% ou menos. A pressão positiva expiratória final (PEEP) deve estar em torno de 5-8 cmH2O.
Além disso, a estabilidade hemodinâmica é essencial. O paciente não deve estar em uso de altas doses de agentes vasopressores e deve apresentar um ritmo cardíaco estável. A capacidade de proteger as vias aéreas é outro fator importante, com reflexos de tosse e deglutição adequados sendo necessários para prevenir aspiração.
A força muscular respiratória é avaliada, considerando-se a pressão inspiratória máxima (PIM) e a presença de movimentos respiratórios eficazes. Parâmetros como a frequência respiratória e o volume corrente também são monitorados durante o TRE. O IRRS pode ser utilizado como um indicador, com valores < 105 ciclos/min/L sendo favoráveis.
O TRE é contraindicado em pacientes que apresentam instabilidade clínica, tais como hemorragias ativas, arritmias graves ou hipoxemia persistente, pois estas condições aumentam o risco de falência respiratória durante o teste.
A correta avaliação e indicação do TRE são fundamentais para o sucesso do desmame ventilatório, reduzindo complicações associadas à ventilação prolongada e melhorando os desfechos clínicos dos pacientes.
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Procedimento de realização
O TRE é um procedimento essencial para avaliar a capacidade de um paciente respirar sem assistência mecânica, crucial na determinação da possibilidade de desmame da ventilação mecânica. O procedimento envolve várias etapas metodológicas para garantir a segurança e a eficácia.
Primeiramente, é essencial verificar se o paciente está clinicamente estável. Os critérios incluem uma melhora na condição subjacente que levou à ventilação, ausência de sedação excessiva, estabilidade hemodinâmica e oxigenação adequada, com um índice de oxigenação (PaO2/FiO2) superior a 150-200.
Uma vez confirmado que o paciente é um candidato para o TRE, ele é colocado em uma modalidade de suporte ventilatório mínima, como pressão de suporte baixa ou tubo T, para avaliar sua capacidade de manter a respiração espontânea. Durante o teste, parâmetros vitais como frequência respiratória, pressão arterial, frequência cardíaca e saturação de oxigênio são rigorosamente monitorados.
O teste pode durar entre 30 e 120 minutos. Durante esse período, qualquer sinal de intolerância ao teste, como taquipneia (frequência respiratória superior a 35 respirações por minuto), hipóxia (saturação de oxigênio abaixo de 90%), ou aumento significativo do trabalho respiratório, pode indicar a necessidade de interrupção do TRE e retorno ao suporte ventilatório completo.
Se o paciente tolerar o TRE sem sinais de falha, considera-se sucesso na extubação. No entanto, a decisão final deve levar em conta a avaliação clínica abrangente do paciente. A observação contínua após a extubação é fundamental para garantir que o paciente não desenvolva complicações respiratórias subsequentes.
O TRE é um passo crucial no processo de desmame da VM, e sua realização cuidadosa é fundamental para garantir a segurança e o sucesso na recuperação respiratória do paciente.
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