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Desmame ventilatório: critérios, fases e papel da fisioterapia

O desmame ventilatório é o processo de redução gradual e, eventualmente, de retirada do suporte ventilatório em pacientes que dependem de ventilação mecânica para manter a função respiratória. Esse processo é uma, dentre várias etapas, que os pacientes internados em unidades de terapia intensiva podem cursar. Esse procedimento garante a recuperação respiratória sem comprometer a segurança do paciente.

O objetivo principal do desmame é
restabelecer a autonomia respiratória
, promovendo a recuperação pulmonar e reduzindo as complicações associadas ao uso prolongado da ventilação mecânica, como infecções, lesões traqueais e fraqueza muscular periférica e ventilatória.

A importância do desmame ventilatório reside na necessidade de um ajuste fino entre a retirada do suporte ventilatório e a capacidade do paciente de respirar de forma espontânea. Estratégias eficazes e individualizadas de desmame ajudam a evitar falhas no processo, otimizam o tempo de internação hospitalar e melhoram os desfechos clínicos. A avaliação criteriosa da força muscular respiratória, oxigenação e estabilidade hemodinâmica é essencial para o sucesso do desmame. Além disso, protocolos baseados em evidências e monitoramento contínuo durante o processo são determinantes para a recuperação do paciente, prevenindo recaídas ou necessidade de reintubação.

Critérios para o desmame e fases do processo

A avaliação criteriosa do paciente é fundamental para o sucesso no desmame da ventilação mecânica. Inicialmente, é importante verificar se a causa base da disfunção respiratória foi resolvida ou significativamente controlada. Parâmetros como a relação PaO₂/FiO₂ ≥ 150 mmHg ou SpO₂ ≥ 90% com FiO₂ ≤ 40% e PEEP ≤ 5 cmH₂O indicam oxigenação adequada. 

Além disso, o paciente deve apresentar estabilidade hemodinâmica, sem necessidade de drogas vasopressoras ou com doses mínimas, e pH sanguíneo superior a 7,25. A capacidade de iniciar esforços inspiratórios espontâneos também é um critério indispensável. 

O planejamento do desmame envolve a seleção de estratégias apropriadas, como o
Teste de Respiração Espontânea
(TRE), que pode ser realizado através de métodos como o tubo T, CPAP ou pressão de suporte baixa. A escolha do método deve ser individualizada, considerando as condições clínicas do paciente. 

A avaliação da força muscular respiratória, incluindo a medição da pressão inspiratória máxima (PImax), é importante se houver treinamento e equipamento disponível no serviço, pois valores superiores a -20 cmH₂O estão associados a maior probabilidade de sucesso no desmame.

A participação de uma equipe multiprofissional é vital nesse processo. A implementação de protocolos padronizados de desmame, conduzidos por profissionais treinados, pode reduzir o tempo de ventilação mecânica e melhorar os desfechos clínicos. A monitorização contínua durante o desmame permite a identificação precoce de sinais de falha, possibilitando intervenções imediatas para evitar complicações.

Papel da fisioterapia respiratória

A recuperação funcional após o desmame da ventilação mecânica (VM) é um processo complexo que exige intervenções multidisciplinares, com destaque para o papel da fisioterapia. A interrupção do suporte ventilatório pode resultar em fraqueza muscular generalizada, redução da capacidade funcional e comprometimento da qualidade de vida. Nesse contexto, exercícios e técnicas específicas são essenciais para restaurar a funcionalidade e a independência do paciente.

Exercícios de fortalecimento muscular são importantes no processo de reabilitação do paciente em desmame de VM. Têm como objetivo otimizar a força da musculatura periférica e respiratória. Treinamentos de resistência e força, como exercícios com elásticos ou pesos leves, ajudam a reverter a perda de massa muscular e a melhorar a capacidade funcional. 

Para a musculatura respiratória, dispositivos como o Threshold® e Powerbreathe® são utilizados para promover ganhos na força e endurance dos músculos inspiratórios. A fisioterapia deve ser compreendida de forma integrada, considerando a interdependência entre os sistemas cardiorrespiratório e musculoesquelético. Separar a atuação da fisioterapia em "respiratória" e "motora" desconsidera que a função respiratória está diretamente ligada à mobilidade, força muscular e postura, assim como a função metabólica musculoesquelética depende de uma adequada de oxigênio, retirada de dióxido de carbono aos tecidos.

A reabilitação funcional inclui a mobilização precoce e a fisioterapia motora, com atividades que envolvem progressões desde o simples sentar à beira do leito até a deambulação assistida e independente posteriormente. Esses exercícios são projetados para prevenir complicações hemodinâmicas e cardiopulmonares.

Treinamento aeróbico progressivo, como a caminhada com uso de equipamentos ou não (esteira, cicloergômetros), melhora a capacidade cardiorrespiratória e auxilia na recuperação da tolerância ao esforço.

Além disso, técnicas como a ventilação não invasiva (VNI) e a oxigenoterapia suplementar podem ser empregadas durante os exercícios para prevenir dessaturação de oxigênio e desconforto respiratório. 

Técnicas de higiene brônquica são igualmente importantes para otimizar a ventilação e prevenir infecções respiratórias. O monitoramento dos sinais e sintomas durante a sessão a fim de otimizar a progressão do paciente pode ser feito com o uso de medidas funcionais, como o teste de caminhada de seis minutos (TC6M) e escalas específicas para a força muscular e a qualidade de vida, assim como ajustes no plano de reabilitação conforme necessário.

Conclusão

O desmame da ventilação mecânica é um processo complexo que requer abordagem interdisciplinar, com o fisioterapeuta desempenhando papel central. Este profissional poderá conduzir a avaliação funcional e a conduta terapêutica para o paciente com o uso de técnicas e procedimentos na recuperação funcional do paciente, além de uma transição segura e eficiente para a respiração espontânea, melhorando o prognóstico e a qualidade de vida.