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Terapias para casais: avaliação e intervenção

É crescente a busca por atendimento para casais na prática clínica, embora seja um campo relativamente recente de trabalho do psicólogo, como aponta Gorayeb (2017).  A terapia de casal pressupõe que duas pessoas receberão atendimento psicológico conjunto, com a finalidade de sanar dificuldades presentes em seu relacionamento, uma vez que os problemas presentes na relação não são necessariamente advindos de questões individuais dos membros, mas sim da própria dinâmica estabelecida entre o casal (Gorayeb, 2017).  

Podem ser várias as demandas que trazem conflitos para uma relação amorosa, como problemas na comunicação, déficits na resolução de problemas, histórico familiar ou problemas de ordem financeira ou laboral (Bolsoni-Silva, & Marturano, 2010). Considerando tais questões, algumas vertentes do enfoque cognitivo comportamental e contextual vêm apresentando estratégias de avaliação e intervenção para casais, que serão apresentadas de forma breve nesse artigo.  

Avaliação
 

Conforme Dattilio (2011), há três métodos principais de avaliação clínica: entrevistas individuais e conjuntas com os membros do casal, questionários de autorrelato e observação comportamental das interações. O propósito dessas avaliações é compreender as potencialidades e os problemas dos indivíduos, casais ou famílias, além de analisar o ambiente em que estão inseridos. Outro objetivo é situar o funcionamento individual e familiar no contexto de seu estágio de desenvolvimento e mudanças, identificando aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais da interação familiar que podem ser alvo de intervenção (Dattilio, 2011). 

Um ponto crucial é que a avaliação não se restringe ao início do processo terapêutico, mas se mantém contínua ao longo do tratamento. O terapeuta constantemente descobre novas informações que podem alterar o curso da terapia, e essa reavaliação, mesmo em estágios avançados do tratamento, demonstra competência clínica (Dattilio, 2011). 

Compreender a dinâmica de uma relação afetiva e sexual, especialmente no contexto monogâmico, é um desafio complexo. Isso se deve ao fato de que cada indivíduo traz consigo um histórico único, que inclui seu ambiente de origem, temperamento, fatores de estresse e escolhas de vida. Além disso, cada pessoa carrega um conjunto de crenças, moldadas pelas interações entre esses elementos (Cardoso & Paim, 2021).  

Intervenção
 

O modelo cognitivo de Beck sugere que pensamentos automáticos, emoções e comportamentos estão interligados, influenciando diretamente o bem-estar e funcionamento de um indivíduo (Beck, 2011). Quando se trata de um casal, a complexidade aumenta, pois é necessário entender tanto o funcionamento individual quanto a interação entre os dois parceiros. Assim, a conceitualização cognitiva de um casal torna-se ainda mais desafiadora (Cardoso & Paim, 2021). 

Dattilio (2011) destaca outros aspectos relevantes para a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) aplicada a casais, como as percepções, expectativas e suposições. Percepções referem-se à maneira como uma pessoa interpreta uma situação, enquanto expectativas são tentativas de prever o comportamento do parceiro. Já os padrões dizem respeito às crenças sobre como um relacionamento deve ser, e as suposições são ideias sobre o que o relacionamento de fato é. Barletta et al. (2020) descrevem três fases essenciais na TCC de casais: 

  • Fase inicial
    : avaliação, contrato terapêutico, definição de metas, psicoeducação e automonitoramento inicial. 
  • Fase intermediária
    : foco na melhoria do relacionamento, resolução de problemas, identificação e modificação de crenças, regulação emocional, treino de habilidades sociais conjugais e partilha da conceitualização do casal. 
  • Fase final
    : preparação para o término da terapia, fortalecimento de recursos e prevenção de recaídas. 

Uma abordagem que tem ganhado relevância na terapia de casais é a
Terapia do Esquema
(TE). Desenvolvida a partir da terapia cognitiva, a TE foi criada para tratar pessoas consideradas de difícil tratamento, com foco nas emoções e nas experiências precoces de vida (Simeone-DiFrancesco et al., 2015). Young e Klosko (1994) apontam que a escolha amorosa está frequentemente associada à busca por padrões aprendidos nas relações primárias. A ativação de esquemas iniciais desadaptativos (EIDs), baseados em padrões emocionais profundos, influencia escolhas amorosas disfuncionais e a permanência em relacionamentos prejudiciais (Atkinson, 2012). 

Essa ativação esquemática pode desencadear um ciclo vicioso de respostas emocionais, cognitivas e comportamentais, levando à deterioração do relacionamento (Paim, 2016; Simeone-DiFrancesco et al., 2015).

O uso de modos desadaptativos impede que as necessidades emocionais dos parceiros sejam adequadamente atendidas, gerando mais insatisfação e perpetuando o ciclo destrutivo (Paim, 2016). O tratamento com a TE visa fortalecer o “adulto saudável” através de um processo que inclui a criação de uma relação terapêutica sólida, identificação de gatilhos emocionais e o trabalho com os modos desadaptativos para promover mudanças. 

Outra abordagem eficaz para casais é a
Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)
. A ACT foca em ajudar os parceiros a aceitarem seus sentimentos e pensamentos negativos como parte natural da experiência humana, em vez de tentar controlá-los ou eliminá-los (Walser & Westrup, 2009). Isso permite que o casal lide com os desafios emocionais de forma mais compassiva, minimizando reações impulsivas e promovendo uma maior compreensão mútua. 

Além disso, a ACT valoriza a prática de mindfulness, que envolve estar presente de forma não julgadora. Isso facilita a conexão entre os parceiros e melhora a consciência de suas próprias reações emocionais e comportamentais (Walser & Westrup, 2009). A ACT também encoraja os casais a identificarem seus valores individuais e compartilhados, oferecendo uma base sólida para decisões e comportamentos alinhados com o que é importante para ambos, fortalecendo o compromisso e a negociação em situações difíceis (Hayes, 2004). 

Por fim, a
Terapia Comportamental Integrativa para Casais (IBCT)
, desenvolvida por Jacobson e Christensen, deriva da Terapia Comportamental Tradicional para Casais (Jacobson & Christensen, 1998). A IBCT combina estratégias de aceitação emocional e mudança comportamental, sendo especialmente útil para lidar com problemas complexos, como infidelidade ou abuso de substâncias (Roddy et al., 2016; Jacobson et al., 2000). 

A IBCT ajuda os casais a aceitarem características do parceiro que antes consideravam inaceitáveis, não como uma forma de resignação, mas como uma oportunidade para criar maior intimidade e proximidade. Paradoxalmente, a aceitação pode gerar mudanças comportamentais mais profundas e duradouras do que as tentativas diretas de mudar o outro (Jacobson et al., 2000). 

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Como citar este artigo:
Rebessi, I. P., Lobo, B. O. M., & Neufeld, C. B. (Set., 2024). Terapias para Casais. Blog do Secad.

Autoras
 

  • Isabela Pizarro Rebessi 

Psicóloga e Mestre em Psicologia pela FFCLRP-USP. Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pelo CETCC. Terapeuta Certificada pela Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Supervisora clínica em Terapia Cognitivo Comportamental e Terapia do Esquema. Professora em cursos de Pós Graduação em Terapia Cognitivo Comportamental e Terapia do Esquema. Pesquisadora colaboradora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo Comportamental (LaPICC-USP). 

  • Beatriz de Oliveira Meneguelo Lobo 

Psicóloga e Mestra em Psicologia (área de concentração Cognição Humana) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutoranda em Psicologia em Saúde e Desenvolvimento pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP), com bolsa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais e com Formação em Terapia do Esquema. Pesquisadora e Supervisora no Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental - LaPICC-USP da Universidade de São Paulo (USP).